24/10/2025
Não transformamos o outro, porque o outro é liberdade.
O ser humano é um projeto em constante construção, um ser que se faz a cada escolha, a cada gesto, a cada silêncio. Assim como nós, o outro também é um ser inacabado, imprevisível e livre. Tentar “organizá-lo” seria negar essa liberdade e cair na má-fé, iludindo-nos com a ideia de que temos controle sobre algo que, por natureza, nos escapa.
Mas se o outro é livre e incontrolável, o que nos resta?
Resta-nos organizar em nós o que é possível compreender, aceitar e transformar. Resta o trabalho silencioso e difícil de voltar o olhar para dentro, de reconhecer as próprias contradições, as expectativas que projetamos nos outros e os medos que tentamos disfarçar por trás de críticas e exigências.
Cada um é responsável por dar sentido à própria existência.
Isso significa que a desordem que vemos fora, muitas vezes, nasce da desordem que negamos dentro. Tentamos mudar o outro porque é mais fácil do que encarar o vazio, a angústia e a liberdade que nos habitam. No entanto, o verdadeiro movimento de liberdade começa quando deixamos de querer controlar o mundo e passamos a assumir a autoria de nossa própria vida.
Organizar em nós não é encontrar equilíbrio eterno, mas aceitar a impermanência e agir com autenticidade, mesmo diante da incerteza.
É reconhecer que o outro nos espelha, mas não nos completa.
É compreender que só podemos oferecer presença verdadeira quando paramos de exigir que o outro seja uma extensão de nós.
Assim, viver é reconhecer a liberdade do outro sem abrir mão da nossa e continuar, dia após dia, a difícil tarefa de organizar o que somos, mesmo sabendo que nunca estaremos totalmente prontos.
Com carinho!
Psicóloga
Dilce Monteiro