27/08/2021
Não creio que as pessoas saibam exatamente como é vida de psicólogo. Na verdade, para ser justo, ninguém sabe o que é ser de alguma profissão específica. Mas, gostaria de falar um pouco sobre como é ser psicólogo para mim.
Quando escolhi ser psicólogo foi apenas a gota final de um processo que me acompanhava desde pequeno, sempre questionei do porque as pessoas não poderiam ser escutadas com mais respeito.
Enfim, quando iniciei a graduação logo percebi a grande diferença entre escutar e ouvir. Onde o ouvir refere-se a todo sentido da audição cabendo na escuta o processo de focar a audição. Por mais simplório que seja a definição que fiz agora sobre as modalidades da audição, isso marcou minha vida profundamente.
Não consigo mais escutar alguém e responder qualquer coisa que seja. Sinto uma vulgaridade enorme em dizer qualquer coisa que não seja algo acolhedor.
Não que eu seja perfeito em acolher, escrevo esse texto pensando em todas vezes que falhei em ser mais acolhedor, seja na vida pessoal ou até mesmo profissional. Entretanto, essa busca por escutar não tem volta. É uma atitude e um estilo de vida que se torna uma eterna meta.
Impossível compreender o real significado do escutar e falar qualquer coisa despretensiosamente para alguém que está sofrendo ou desconfortável. É como querer trocar uma flor frágil com o cuidado para a mesma não quebrar.
Com isso afirmo categoricamente que o ser humano é essencialmente frágil. Não há desmerito nisso, é uma realidade ontológica. Porém, o que deixa tudo nublado e problemático é quando se quer ser não-fragil.
Cuidar da fragilidade é a real força do ser humano. Isso é brilhante e traduz um pouco o que passa na mente do psicólogo (pelo menos na minha).
Dar espaço para as pessoas serem quem são, buscar compreender o que estão passando e não aprisioná-las o máximo que puder em julgamentos depreciativos.
Isso tudo me deixa muito inábil em dar conselhos, logicamente não pela falta de habilidade em o fazer. Mas, diante da tamanha responsabilidade que é escutar alguém. Escutar no sentido focal da audição, não ver a fala do outro como mais um ruido do mundo, mas focar atenção no que é me dito da mesma forma que focamos numa música para desfrutar completamente dela.
Disso que se distingue o ruido de sons com sentido.
Quando dizem para mim em tom de brincadeira que eu to analisando quem fala comigo, só penso o quanto se confunde respeito com análise.
Análise requer atenção, intencionalidade, requer estar atento a tudo que é implícito ou explícito, é uma atitude investigativa. E é gozado que as pessoas confundam respeito com isso, justamente por ser tão pobre no sentido generalista a atitude de respeito que se tem com as pessoas que estão sofrendo ou desconfortáveis. - Se está me escutando então deve estar me analisando -
Isso é mera especulação da minha parte, mas acredito que escutar pode gerar medo em muitas pessoas. Medo por saberem que seus universos não estão sendo colonizados, mas dando espaço para se traduzirem por si mesmos. Analise por outro lado é um processo frio, envolve uma pessoa e um objetivo ou um ser objetificado.
Essa é a psicologia que tomou conta de mim no consultório e na minha vida pessoal como um todo. Acho que não tem mais volta. Gratidão.
27 de agosto, dia do psicólogo.
Psicólogo Felipe Schulte Ferreira Rodrigues
CRP 07/20450