
26/07/2025
Viena – Capim Limão:
Não havia pressa nos passos, nem alarde em sua presença. E ainda assim, cada vez que ela passava, algo mudava.
O ar parecia desacelerar. O barulho das rodas nas pedras se tornava mais suave. E as pessoas paravam, mesmo sem perceber, como se o momento exigisse silêncio.
Não era por causa do vestido bordado à mão, nem do chapéu com plumas vermelhas. Era algo que não se via — mas se sentia.
Uma espécie de aura… um perfume. Um cheiro que não era só perfume. Era lembrança.
Lembrava a infância, os olhos da mãe ao costurar no fim da tarde, uma carta escondida na gaveta, o calor de um abraço que nunca mais voltou.
E quando ela passava, aquilo vinha à tona. De um jeito que ninguém sabia explicar.
E havia algo em seu perfume — não o que vinha da pele, mas o que parecia sair de dentro — que tocava fundo.
Não era uma fragrância qualquer.
Era o tipo de cheiro que faz a gente parar no meio do dia e sentir falta de algo que não sabe nomear.
Mas, às vezes, quando o inverno se despede e o ar f**a mais leve, é possível senti-la.
Não em forma, mas em presença. Num cheiro que surge sem aviso, e de repente enche o peito de saudade e calor.
Porque certos aromas não são fragrâncias. São memórias vivas.
E certas presenças, mesmos ausentes, continuam a tocar quem um dia sentiu.