03/05/2024
Hoje, reflitindo sobre minhas escolhas...
Vem-me a cabeça, com muita nostalgia, como uma lembrança gostosa meus tempos de estudante e residente. Conheci pessoas maravilhosas em todos os aspectos. Das madrugadas acordado, sob um stress tremendo, na luta contra a morte no centro cirúrgico. A calma, técnica, perseverança, insistência de meus professores mostrando como haviam aprendido e, quando eles diziam: aqui, é o pulo do gato, "the cat manover", estamos na zona do agrião. Lembro-me dos primeiros raios de sol a entrar pela janelas dos blocos cirúrgicos, das equipes trocando plantão, dos meus pensamentos: tô lascado hoje; quero minha cama; tem uma cirurgia imensa mais tarde... Lembro-me das vezes que acordava com o rosto em cima do livro, dos finais de semana e feriados estudando ou trabalhando, das reclamações dos professores, queria um buraco naquelas horas para enterrar minha cabeça de tanta vergonha; da raiva que sentia quando era cobrado e não sabia ou fazia direito, fazendo-me engolir o livro ou treinar determinado ponto em travesseiros, só para mostrar que havia aprendido. Das lágrimas derramadas escondidas após cobranças, sermões dos professores. Mas muitos diziam, aprendam agora, se reclamo é para seu bem, quando estiverem sozinhos, vão se lembrar do que disse, passarinho tem q aprender a voar...
Lembro-me quando comecei a ensinar, minha primeira cirurgia, as mãos tremendo, o medo de errar, de chamar alguém mais experiente para dar segurança.
Lembro-me das horas dentro do centro cirúrgico, madrugadas, pensamentos (amanhã tenho consultório, cirurgia, q
para não sei onde para trabalhar, tomando um café com um mata fome na lanchonete, das vezes que peguei no sono ao volante, já com uma filhinha, era Deus comigo.
Tantas e tantas recordações, boas e ruins, tantas vidas salvas, abraços, sorrisos e lágrimas de pacientes e familiares.
Perdemos muitas vezes, vidas jovens a idosas, de pessoas amadas. O desespero dos familiares, a tristeza em meu coração, a sensação de fracasso. Não somos deuses, apenas médicos. Mães que perderam seus filhos, esposas sem marido, etc... E a pergunta: e agora doutor? O q vai ser de minha vida?
Ser médico é duro, sacrificante, cansativo. Mas não me consigo imaginar fazendo outra coisa, nem outra especialidade.
E, aos jovens, abro meu coração e digo: faria tudo de novo!!!