03/10/2024
Noite 1 das nove noites dedicadas à Deusa Durga na sua luta contra o mal.
Os deuses, não conseguindo dar cabo dos asuras, os demônios em uma batalha cósmica, pediram ajuda à Deusa, lembrando da suma importância de que Ela está em tudo que existe, portanto faz nascer, sustenta e dissolve, além de fazer mover e até parar, nessa grande Trama do Universo.
Essa é a cosmovisão tântrica que se desenvolveu ao longo dos milênios, movendo-se ao longo da linha do tempo na história indiana, dos ritos mais arcaicos que estavam diretamente em conexão com os elementos, os animais, à Natureza, sendo registrado nos Vedas como a Shakti primordial, a deusa Gayatri, chamada de Veda Mata (Mãe dos Vedas). Sri Gayatri também é chamada de “Veda Mata, A Mãe dos Vedas”.
Seu nome aparece primeiramente no primeiro Veda, o Rig-Veda. Ela é a primeira manifestação da Consciência Universal de Deus ou da Natureza.
E além das disputas entre Vedanta e Ta**ra, qual seria o inicial ou argumentos de que uma via originaria da outra (o que satisfaz o ego em sentir-se superior, por uma questão de antiguidade, como se isso invalidasse a via não tão antiga quanto a outra), é bom lembrar que é do Shivaísmo que Vedas e Ta**ras se originaram - esse Shivaísmo no qual Shaktismo sempre esteve incorporado, pois da investigação da Realidade, nomeando assim "de maneira xamânica" os elementos que ia categorizando, tudo de incorporado, palpável (os sentidos inclusos), de carnal, orgânico, material, pertencente à Natureza, sendo denominado como o princípio feminio, Prâkritî - que na "tabela periódica" de 36 Tattvas do Ta**ra Trika Advaita da Caxemira não é demonizada ou colocada em subserviência ou menos importante que o princípio masculino, Purusha e Shiva, portanto, formando uma via espiritual até mesmo, poderíamos assim dizer, feminista, no sentido de trazer equidade entre masculino e feminino.
Reflita: o quanto você acha que as vias espirituais patriarcais, com a figura masculina em posição superior e mais vallorizada, influenciaram no modo comportamental desde milênios atrás até os dias de hoje, e através das religiões?
E se a face feminina da fonte divina retomar seu devido espaço, que inegavelmente traria o tão necessário equilíbrio para nós, seres humanos mortais com ideias de imortalidade através das religiões, pudéssemos viver vidas mais paradisíacas, saudáveis, longevas, pois estaríamos em mais conexão com a Natureza, com nossos corpos, sem ditarmos normas às outras pessoas de como deveriam ser?
Certamente soa bastante anárquica essa ideia de retomada do feminino, e nesse interim, de temor, cabe lembrar o papel da Consciência dentro da cosmovisão tântrica: de auto-observação, auto-responsabilidade, de ser maternal e portanto zelar pela vida em comunidade, qualidades bastante femininas, de "Vênus", ao invés do caótico masculino que é intolerante, intransigente, punitivo.
Mas segundo os mesmos textos, apesar de quase estarmos saindo dela, estamos na era da decadência, em que líderes são corruptos, não cumprem seus propósitos de zelo pela pólis.
Mas o quanto conseguimos perceber e identificar traços femininos em meio ao funcionamento do patriarcado? Será o masculino vigente na dinâmica geopolítica que rege corpos de todo maléfico?
Reflexões para sucitar direcionamentos do mal que se deve combater durante as nove noites dedicadas à deusa Durga.
No Devî Mahâtmyam é mencionada uma guerra, e a armadura que as deusas formam para proteger aspirantes e devotos na senda de combate ao mal. O que é o mal? A ignorância, primeiramente, para que em nosso espírito o puro discernimento prevaleça.
Convido vocês para estar comigo ao vivo logo mais às 20h (logo mais compartilho o link de acesso ao YouTube aqui) onde vou compartilhar estudos do Devî Mahâtmyam para este festival do Navaratri.
Thiago Goulart
Arte: "Transformações de Durgā Arte manuscrita Navarātrī do Nepal - Apresentando a Deusa com Bhairava, Guhya ('Segredo') Kālī e você sabe quem no painel superior..." via CChristopher Tompkins