09/07/2025
A autossuficiência é fortemente incentivada pelo capitalismo, especialmente em sua forma neoliberal. A lógica do “self-made”, da produtividade individual e da responsabilização do sujeito por seu sucesso ou fracasso promove a ideia de que depender do outro é fraqueza.
Na lógica contemporânea, o sujeito é convocado a ser eficiente, produtivo, desejável, forte. A cultura do “dar conta de tudo”, do “querer é poder” opera como imperativo, e isso apaga a falta estrutural que constitui o sujeito do inconsciente.
Essa exigência de autossuficiência é sintomática: desconsidera a estrutura desejante do sujeito, que é atravessada pela falta, pela incompletude, pela necessidade do outro e pelo coletivo. A promessa capitalista de plenitude via desempenho individual colide com essa realidade psíquica e o resultado pode ser sofrimento, culpa e depressão.
Trago aqui a depressão, nesse cenário, como o fracasso da autossuficiência. Não é fraqueza moral, mas ruptura simbólica: é o colapso do eu diante da impossibilidade de sustentar a imagem idealizada de si. Quando o sujeito já não pode mais encenar sua completude, quando o Outro não mais responde com reconhecimento, instala-se o vazio, o conflito. E é nesse ponto que se paralisa.
Freud nos ensina, na obra “Luto e Melancolia”, que na depressão o objeto perdido não é apenas o outro, mas parte do próprio eu que se investia nesse outro. O eu, então, se empobrece. Há uma perda narcísica, uma ferida de identidade. O sujeito não consegue elaborar a perda, pois identificou-se demasiadamente com o ideal que fracassou.
Lacan diria que a depressão revela a queda do objeto a, o objeto causa do desejo. O sujeito deixa de desejar porque se vê como falho, indigno, insuficiente. Mas o desejo nunca foi sobre “ser tudo”, e sim sobre se relacionar com a falta: a própria e a do outro.
Nossa subjetividade é fendida, faltante. Somos seres de laços, coletivos. Tentar tornar-se autossuficiente é um mito que adoece quem tenta encarná-lo.