03/04/2025
*Viver é escolher qual desconforto você vai bancar.*
Essa é uma das verdades mais silenciosas da existência. A vida não é sobre evitar o desconforto — ele é inescapável a nós. Mas escolher o desconforto que tem sentido para si é uma forma profunda de liberdade existencial.
A pergunta, então, não é “como viver sem incômodo?”, mas “qual incômodo você sustenta com dignidade?”
Winnicott nos diria:
“A saúde não é estar sem conflitos, mas ser capaz de suportá-los.”
A ideia de uma vida confortável, plena e sem incômodos é uma fantasia — uma fantasia infantil que precisa ser superada para que possamos entrar na vida real, onde a escolha mais honesta é:
entre quais dores estou disposto a crescer?
Saint-Exupéry expressou isso com beleza e simplicidade em O Pequeno Príncipe:
“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão bonitas!”
A vida humana é marcada por uma tensão constante entre o desejo e a realidade. Para Winnicott, amadurecer é aprender a tolerar a frustração de que o mundo não responde imediatamente ao nosso desejo. Essa tolerância nos tira da onipotência e nos conduz ao real — ao possível, ao imperfeito, ao vivo.
Desejo e realidade dançam juntos. Nem sempre em harmonia.
E quando falamos de liberdade, é preciso cuidado.
A liberdade é linda, mas não é leve. Quem escolhe, carrega. Quem decide, se compromete.
Ser livre não é viver num estado solto e espontâneo, mas sim bancar as consequências das escolhas que fazemos — mesmo quando elas doem.
Como dizia Simone de Beauvoir:
“A liberdade se encarna em um mundo real, e isso significa que ela implica limites, perdas e angústias.”
E Winnicott completaria:
“Ser livre é saber que você pode se frustrar — e ainda assim sobreviver.”
Não existe um jeito indolor de viver. Mas existe, sim, um jeito autêntico: aquele em que o incômodo vale a pena.
A vida não é confortável, mas pode ser significativa.
O sofrimento não desaparece, mas pode ser transformado em potência.
A escolha nunca é entre dor e paz absoluta, mas entre qual dor faz sentido carregar.
E o desejo — motor da vida — só nasce onde há falta, aposta, risco e renúncia.
“A vida presta!”
— Fernanda Torres