22/07/2018
DIETA DO JEJUM INTERMITENTE
Segundo Marcia Regina Vitolo (excelente colocacao)
Recentemente, recebi um vídeo pelo inbox (só assim mesmo para eu assistir😬), do Dr Barakat falando sobre JEJUM. É possível perceber que o vídeo é mais longo e que foram feitos muitos cortes para ficar bem objetivo e ser mais convincente. Não anexei o vídeo, pois não compartilho o que na minha formação técnica é incorreto ou parcial, mas coloco aqui minhas considerações sobre o assunto:
1) No vídeo o Dr Barakat inicia, literalmente, dizendo que essa história que o café da manhã é a melhor refeição do dia é a “maior mentira inventada pela indústria dos cereais matinais”. Bom, vamos colocar os pingos nos “is”. O “café da manha” já existia antes, o setor da indústria dos alimentos aproveitou a “deixa” e fez seu marketing. Fiz uma enquete entre todos os idosos da família, para saber qual era prática deles quanto ao café da manhã há 70 anos atrás, foi unânime, café com leite e pão com manteiga. Talvez tenha sido uma conspiração dos produtores de leite, café e padeiros, sabe se lá. Mas coloco aqui só algumas (há muitas) referências científicas (sem conflito de interesse) que contradizem a informação do Dr. Barakat que o café da manhã é uma bobagem (Betts, J.A et al, 2016;AHA, 2017; Nas, A. et al, 2016; Cahill, L.E et al, 2013; Jakubowicz, D. et al., 2015;).
2) Há vários tipo de Jejum que são propagados e estão “na moda”. O 16/8, o 5/2, o p**a um dia, come um dia, o p**a uma refeição, e assim vai. Bom, são tantos tipos que algum até dá para encarar, como o de fazer a última refeição por volta das 19-20 horas da noite e tomar o café da manha por volta das 7-8 horas da manhã. Nesse método, se faz 12 horas de jejum numa boa!!!!!. Claro que se o metabolismo está acostumado a um jantar dos Deuses às 21 horas, vai ser complicado dormir com fome...kkkkk. Mas essa é uma prova que, nesse vídeo, o profissional está apresentando somente uma parte da história, de que fazer jejum é p**ar o café da manhã. Pode se dar uma trégua no comer muito, mas não precisa deixar de tomar o café da manhã para se conseguir saúde.
3) Dizer que a insulina “tem que estar baixa” num vídeo para leigos e disseminado pela internet, é minimamente uma brincadeira de mau gosto. Me lembrei dos meus alunos com aquelas técnicas criativas para explicar para o pacientes como a insulina atua, sua função e a importância de se alimentar corretamente para que ela atue, imprescindivelmente, de forma saudável. Bom, nesse vídeo o doutor simplificou, a insulina é o vilão, não precisa mais, não coma, acabe com a insulina e tudo resolvido.
4) O Nobel de Medicina (Yoshinori Ohsumi) foi citado como a prova que o jejum é um método de longevidade e saúde. O estudo pelo qual ele foi premiado não prova nada disso. O nobel estudou o processo de autofagia em células de levedo, que seria uma mecanismo de limpeza das células. Mas o doutor Barakat, no vídeo, não falou que a simples restrição calórica para quem come mais do que devia também é uma forma de aumentar a longevidade (lógica já milenarmente conhecida). Além disso, não existe estudos em humanos suficientes para provar que essa teoria é uma evidência. Se algum grupo de pesquisa já começou a fazer um clinical trial para testar essa hipótese em seres humanos vamos ter que esperar pelo menos 80 anos para ver os resultados. Eu nunca vou saber, me contem na outra vida..rsrsrsrrr Alimentação saudável e exercício físico regular também estão associados à saúde e longevidade, sem necessariamente se aderir às práticas do jejum.
5) Sobre o jejum o Dr Barakat só mencionou o que lhe interessava mencionar, mas não falou em “starvation resistance” traduzido como “resistência ao jejum”, em que quando se faz jejum as células de gordura (temos bilhões delas) detectam como se fosse uma “guerra”, está faltando alimentos, então elas se tornam econômicas. A última coisa que as pessoas precisam é que suas gordurinhas economizem energia e aumente sua reserva para se defender da restrição alimentar imposta (mais detalhes no Nem Dietas, Nem Milagres. Calorias e Disciplina na medida certa. Vitolo, MR).
6)Fazer jejum, é passar fome.Certo? Ironicamente os pesquisadores da área de saúde pública já demonstraram que “passar fome” está associado com obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares (estudos na linha da Insegurança Alimentar). Ups! Deu um nó nas cabeças dos estudantes de nutrição. Mas sempre gostei da teoria que ficar confuso é a primeira etapa do verdadeiro aprendizado.
7) O que aconteceu com a psicologia, antropologia e a sociologia? Um profissional da área da saúde ignorando que as pessoas têm histórias e memórias, vontades e prazeres, que vão interferir nos mecanismos neuroendócrinos liberando endorfinas que vão atuar no bem estar, melhora da auto estima, reduzir sintomas depressivos e de ansiedade, além de manter o controle do apetite. Comer é uma fonte de prazer que têm diferentes significados. Não é fácil interferir nesse processo.
8) Eu não sou contra o “jejum”, ele é praticado milenarmente e regularmente em muitas religiões, é um coadjuvante para as práticas de meditações e também usado para procedimentos médicos. Eu não estou assumindo lados, eu só estou mostrando o outro lado da moeda que existe e que deve ser apresentado para que as pessoas possam fazer suas escolhas e tomar decisões com os olhos abertos.