
14/07/2025
Se curar dói.
E é justamente por isso que, muitas vezes, tentamos “burlar” o processo ou resistir ao tratamento.
Na psicanálise, chamamos de resistência esse movimento de evitar entrar em contato com conteúdos dolorosos.
A resistência age de forma inconsciente — ou seja, nem sempre percebemos que estamos fugindo daquilo que nos machuca, mesmo estando em psicoterapia.
É como se algo dentro de nós puxasse o freio.
E isso aparece nas pequenas atitudes: chegar atrasado às sessões, faltar sem avisar, mudar de assunto quando algo importante começa a emergir. A gente até acha que não está fugindo… mas o corpo chega atrasado, a mente escapa pela tangente.
Tem dias em que parece que não há nada a dizer — mas, no fundo, estamos apenas evitando olhar para o que realmente importa.
Não sei se já aconteceu com você, mas muitas vezes buscamos mil desculpas para interromper a terapia: falta de tempo, de dinheiro, “não gostei do que o psicólogo falou”…
Tudo isso pode ser só um disfarce da resistência.
A gente resiste à cura e, sem perceber, tenta transformar a dor em um bichinho de estimação — algo familiar, quase confortável.
Costumamos pensar que fugir atrasa o processo…
Mas Freud já dizia: a resistência não é o oposto da cura — ela faz parte do caminho.
Ela não é um erro. Nem um obstáculo.
É um sinal. Um convite para olhar com mais cuidado para o que está escondido, esperando ser escutado.
No seu tempo. No seu ritmo.
Quando perceber que isso está acontecendo, leve para a sessão.
Talvez aí esteja o verdadeiro começo da sua cura.
O que será que você tem evitado sentir?
Texto Laís Mortean Gemenes
Psicóloga e Psicanalista