25/05/2025
Ontem, 24 de maio, foi o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esquizofrenia — data que nos convida não apenas a informar, mas a pensar com mais profundidade sobre a forma como tratamos a loucura e, principalmente, aqueles que a encarnam de modo mais visível. A esquizofrenia, apesar de sua complexidade clínica e humana, permanece envolta em estigmas, preconceitos e medos que, muitas vezes, dizem mais sobre a sociedade do que sobre a própria condição.
Vivemos em um mundo que clama por saúde mental, mas que frequentemente abandona quem mais precisa de cuidado. Pessoas com esquizofrenia são silenciadas, institucionalizadas, afastadas do convívio social e tratadas como "casos" a serem contidos, e não como sujeitos a serem escutados. Falta cuidado, falta presença, falta humanidade. Não basta oferecer um diagnóstico ou uma medicação — é preciso escuta, vínculo, e sobretudo, o reconhecimento de que ali há um sujeito que sofre.
A psicanálise, ao colocar em primeiro plano a escuta do sofrimento psíquico, nos lembra que a loucura não é um fenômeno distante. Pelo contrário: ela nos atravessa. Há em cada um de nós algo de desencaixado, de estranho, de ilógico. Vivemos entre lapsos de sentido, angústias que não sabemos nomear, compulsões que não conseguimos conter. A loucura, nesse sentido, não é o oposto da razão, mas uma de suas margens. E talvez seja justamente por isso que a figura do “louco” nos assuste tanto — porque ela nos espelha.
Não basta celebrar a “conscientização” se isso não se traduz em transformação. Que tal nos perguntarmos: que lugar estamos oferecendo à diferença? Que escuta estamos construindo para o sofrimento que escapa às normas? Que espaço, afinal, damos à nossa própria loucura cotidiana?
Mais do que um transtorno, a esquizofrenia é um desafio ético: ela nos exige rever a maneira como nos relacionamos com o outro — e conosco. Quem sabe, então, possamos vislumbrar uma sociedade mais sensível, onde o cuidado não seja exceção, mas expressão concreta de uma humanidade capaz de sustentar o sofrimento do outro sem querer silenciá-lo.