12/12/2020
Triste, mas real.
Sobre lavar o piso da cozinha antes de suicidar-se...
"Mulheres que correm com lobos foi uma leitura que me marcou profundamente, um dos trechos que ficaram martelando em minha mente foi o seguinte: "Um dia, anos mais tarde, depois de lavar o piso da cozinha e da sala de estar com as próprias mãos, ela vestiu sua melhor blusa de seda, abotoou sua saia longa e
colocou seu chapelão na cabeça. Empurrou o cano da espingarda do marido contra o
céu da boca e puxou o gatilho. Qualquer mulher viva sabe por que ela lavou o chão antes."
Eu me perguntava, por quê? Eu sou mulher e não entendo. Eu estava cega.
Até que um dia, meses depois da leitura, minha filha estava na escola e meu marido saiu com meu filho menor para que eu tivesse um tempo para mim.
Então eu estava escovando meus dentes e pensando que iria na lagoa praticar um pouco de yoga e depois mergulhar, "só tenho que antes varrer a casa, lavar a louça e dobrar as cobertas". Nesta hora eu me olhei no espelho assustada e falei sozinha, em voz alta: "Meu Deus! Eu sou a mulher do chapéu!" Antes de fazer qualquer coisa para mim eu precisava deixar tudo limpo e arrumado para todos.
Antes de me permitir ser quem sou, eu precisava ser o que eu achava que esperavam de mim.
Naquele momento eu puxei o meu gatilho e decidi também matar a mulher que me tornara, sem a capacidade de erguer a voz sequer para mim mesma e dizer, agora eu vou cuidar de mim.
Sem necessidade de justificativa ou de desculpas, cuide de você agora, faça o que tem que se feito por você e pra você.
Doa a quem doer.
Por que todos somos capazes de superar o que nos acontece e o que nos fazem de injusto, mas não somos capazes de superar a dor de não nos sentirmos livres para ser, criar, transformar e partir, nós superamos traições de outras pessoas, mas dificilmente as nossas próprias traições.
Ou nos separamos da mulher do chapéu que nos habita e deixamos ela morrer ou nos tornamos ela por completo e nos suicidamos figuradamente ou literalmente por solidão (sendo esta a falta que se sente de si mesma).*
Laura Aria
QUE VERDADEIRO.
MUDAR É PRECISO.
Copiado e colado