15/04/2022
A Maior Revolução de Todos os Tempos
Atualmente é muito difícil dimensionar o contexto da saída do Egito, porque vivemos numa sociedade que, em maior ou menor grau, foi modelada por esse evento. Muita coisa dele ficou incorporada em todas as tradições ocidentais, e pode até parecer algo previsível, mas não é nada disso.
Imaginemos a vida numa sociedade de deuses vivos, onde não somos sequer membros dela, porque somos estrangeiros páreas. Nesta sociedade, para o cidadão comum a morte é certa, porém para um deus vivo é só uma passagem. Assim, a maior honra do cidadão comum egipsio é dar a sua própria vida para facilitar a vida eterna do seu deus, que é de carne e osso. Ela era a maior civilização do mundo, perfeitamente organizada em em torno de uma fé poderosa e palpável, onde qualquer um podia ver, tocar e servir a deuses, que andavam, comiam, etc.
Romper com essa situação não é fácil; ainda mais sendo um cidadão de segunda categoria. Dizer "não" a fé que constroí uma civilização é um ato de extrema determinação, que implica em reestruturar completamente a nossa vida, e não simplismente de sair de um lugar para outro. Significa abolir muitos conceitos, adotar outros, reavaliar condutas, estabelecer metas e, muito especialmente, definir quem pode mandar, como pode mandar, e quem deve obedecer. É preciso sair de nós mesmos.
Em resumo, a expressão "sair do Egito" é muito pobre para descrever a magnitude desta revolução. Não se tem notícia de nenhuma outra que tenha ocorrido em tal nível. Foi, realmente, um milagre.
Aliás, das centenas de milagres que ocorreram na saída do Egito, o que talvez sintetize todos, muito óbvio e, talvez por isso, pouco destacado, é que deu certo. Deu tão admirávelmente certo que estamos aqui, vivos, três mil e quinhentos anos depois, por mais improvável que isso possa parecer.
Melhor ainda, podemos linkar, sem dificuldades, o êxodo com o Shabat.
De fato, o Shabat também é uma libertação, no sentido de que não basta libertar-se da opressão externa. Também precisamos nos libertar da opressão interna. Assim, ao estabelecer que não há compromisso tão importante que não possa ser adiado um dia, estamos deixando de ser escravos de nós mesmos.
Hoje é um dia muito especial, porque poderemos festejar, de uma só vez, todas as liberdades que o altíssimo nos possibilitou. Que todos nós saibamos valorizar, usufruir com sabedoria, guardar e ensinar as gerações futuras o quão importante é ser livre, retribuindo essa dádiva com os melhores exemplos e ações para todos os seres humanos.
Poder sair do Egito é uma honra a ser vivida, não só a cada ano, mas também a cada Shabat e, sempre que possível, a cada dia.
Shabat Shalom e Chag Pessach Sameach!!