Psicóloga Sheila Schildt

Psicóloga Sheila Schildt Psicóloga (2009), Especialista em Psicologia Infantil (2016), Psicanalista (2018), Especialista em TEA (2024) Especialização em Neuropsicologia em andamento.
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18/08/2025
15/08/2025
Autoridade Interna: um eixo que não se dobra ao ventoNa perspectiva psicanalítica, a autoridade interna não é uma voz al...
14/08/2025

Autoridade Interna: um eixo que não se dobra ao vento

Na perspectiva psicanalítica, a autoridade interna não é uma voz alta que grita ordens para dentro de nós, mas uma estrutura silenciosa que sustenta o sujeito mesmo quando o mundo ao redor desmorona. Ela se forma na interseção entre três campos: a inscrição simbólica das leis que nos atravessam, a experiência de ter sido reconhecido como sujeito na infância e a elaboração das rupturas inevitáveis que a vida impõe.

Quando o olhar do Outro — aquele que, no início da vida, nos dá existência e sentido — é ambíguo, negligente ou abusivo, a criança pode crescer sem um eixo firme. Nesse caso, a função de limite não é introjetada como bússola, mas como ameaça. A obediência se torna medo, e a rebeldia se torna necessidade de provar existência. O resultado é um eu que oscila entre a submissão e o desafio, sem encontrar a posição ética de quem age a partir de si.

A conquista da autoridade interna implica romper essa dependência do olhar alheio. É um processo que não se dá pela negação do Outro, mas pela apropriação do que dele se herdou, filtrando o que é lei de vida e descartando o que é cadeia. Em termos lacanianos, trata-se de atravessar o fantasma que sustenta nossas repetições e reconhecer que a legitimidade dos nossos atos não nasce da aprovação externa, mas da coerência entre desejo e responsabilidade.

Autoridade interna é, portanto, a capacidade de sustentar escolhas mesmo diante da desaprovação, de regular a própria ação sem precisar da censura ou da validação de fora. É permanecer no eixo quando as vozes externas tentam nos deslocar — não pela rigidez, mas pela clareza de que o lugar que ocupamos é fruto de uma decisão ética e não de um reflexo condicionado.

No fundo, é um movimento de retorno ao próprio nome: assumir que a palavra final sobre quem somos não pode ser dada por ninguém além de nós, e que essa palavra, quando bem sustentada, é inegociável.

Autoridade interna não é a dureza de quem se fecha, mas a densidade de quem se habita. É saber que, mesmo diante da tentação de ceder, a última instância não está no medo, nem no desejo de agradar, mas na fidelidade ao que é inegociável em si. É o gesto silencioso que recusa explicações excessivas, o passo firme que não pede permissão, a palavra que não se curva ao vento — porque quem se governa por dentro não se perde por fora.


Sheila Schildt Psicóloga, Psicanalista, Supervisora Clínica, Professora Coordenadora no IPC RS, Especialista em Psicologia Infantil e TEA (Transtorno do Espectro Autista), aplicadora ABA, com experiência em Avaliação Psicológica. CRP 07/18674.
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Amor próprio: da ilusão narcísica à posição éticaNa obra freudiana, o amor próprio se enraíza no narcisismo primário, mo...
09/08/2025

Amor próprio: da ilusão narcísica à posição ética

Na obra freudiana, o amor próprio se enraíza no narcisismo primário, momento em que o bebê investe libido na própria imagem como extensão do cuidado recebido. Esse investimento inicial é sustentado pelo olhar e pela presença do Outro. Quando esse Outro é falho, ausente ou invasivo, a imagem de si que se cristaliza pode carregar fissuras: a criança aprende, cedo, que o amor pode vir acompanhado de humilhação, negligência ou desvalor.

No desenvolvimento, o ideal do eu — instância que regula nossos padrões e expectativas sobre nós mesmos — é constituído também a partir desse olhar do Outro. Se esse ideal foi moldado por relações onde a dignidade era constantemente negociada, o sujeito tenderá, mesmo na vida adulta, a aceitar laços que repitam esse padrão, porque são coerentes com sua economia libidinal.

Lacan acrescenta que o amor — inclusive o próprio — está sempre atravessado pela falta. Amar a si mesmo, no sentido psicanalítico, não é preencher essa falta, mas assumir a posição de não se trair diante dela. É reconhecer que o desejo não é ilimitado e que a castração impõe limites: não posso, em nome do amor pelo outro, ultrapassar o ponto em que deixo de me reconhecer.

A frase “ninguém vai me amar se eu não me amar” ganha aqui outro contorno. Não é um convite ao narcisismo inflado, mas a constatação de que, se meu desejo e meu valor não ocupam lugar de condição no laço, o Outro organizará a relação conforme a sua própria lógica — e eu aceitarei.

Quando essa percepção deixa o plano intelectual e passa ao plano do afeto corporificado, instala-se um ponto de não retorno. É o momento em que o sujeito deixa de esperar que o Outro sustente seu valor e se coloca, eticamente, como guardião dele.

Amor próprio, nessa chave, não é um sentimento de apreço por si, mas uma posição ética frente ao próprio desejo: recusar permanecer onde o valor é contingente. É dizer, como ato: “se para estar com você eu tiver que abrir mão de mim, não quero”.

E, uma vez que o corpo já sentiu o insuportável, não há volta. O que foi atravessado pelo real não se desfaz pela memória — e o corpo lembrará antes mesmo que a mente hesite.


Sheila Schildt Psicóloga, Psicanalista, Supervisora Clínica, Professora Coordenadora no IPC RS, Especialista em Psicologia Infantil e TEA (Transtorno do Espectro Autista), aplicadora ABA, com experiência em Avaliação Psicológica. CRP 07/18674.
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Noite das meninas
03/08/2025

Noite das meninas

Quando o outro já não está — e ainda assim você insisteSobre o descompasso entre quem se oferece e quem já decidiu não s...
27/07/2025

Quando o outro já não está — e ainda assim você insiste

Sobre o descompasso entre quem se oferece e quem já decidiu não se implicar

Em certas relações, o desencontro não acontece no fim, mas no início. Logo nos primeiros gestos, nas primeiras respostas. Há quem chegue disposto a construir algo — mesmo que de modo gradual, mesmo que sem nome. O vínculo ainda é nascente, mas o afeto já se insinua: na escuta atenta, na vontade de repetir a presença, na tentativa de abrir espaço interno para um outro. Do lado oposto, porém, pode vir um corte seco, indiferente, camuflado de liberdade: “se quiser sair com outras pessoas, tudo bem.”

Essa afirmação, muitas vezes lida como maturidade emocional, pode operar, na verdade, como uma forma precoce de desimplicação. Um modo de colocar o outro no campo da indiferenciação — nem objeto, nem parceiro, nem ameaça — apenas alguém com quem se partilha circunstancialmente o tempo. O sujeito que enuncia tal frase se posiciona fora da cena desejante. Ele participa do jogo, mas se recusa a ser afetado pelas regras. Não há investimento, só presença performativa.

A psicanálise nos oferece um caminho para entender esse tipo de impasse. Quando há afeto, há necessariamente risco. Estar disponível a alguém é permitir que a estrutura psíquica se mova, mesmo que minimamente. É deixar-se tocar por algo externo que reativa o interno: lembranças, expectativas, medos, fantasmas. Todo início carrega uma repetição — não há relação que não convoque cenas anteriores. E é justamente por isso que muitos recuam. Manter-se à margem, evitar a construção de laço, é muitas vezes uma forma de evitar a reatualização da falta.

Por outro lado, aquele que manifesta desejo de continuidade, que demonstra incômodo diante da frieza, costuma ser acusado de “sentir demais”, de “esperar algo que não foi prometido”. Mas o que está em jogo raramente é promessa: é presença simbólica. Não se trata de esperar garantias, mas de identificar sinais de disponibilidade. E quando esses sinais não vêm, quando o outro oferece apenas uma espécie de neutralidade emocional que, no fundo, é ausência de desejo, instala-se o desequilíbrio.

Estar disponível afetivamente não é o mesmo que se iludir. É justamente o contrário: é sustentar o olhar aberto mesmo diante da possibilidade de perda. É suportar o tempo do vínculo sem precisar anestesiá-lo com distrações, jogos ou terceiras presenças. E isso exige estrutura. Recuar pode ser sintoma de defesa, mas se aproximar é, muitas vezes, sinal de coragem psíquica.

Há uma diferença radical entre quem evita envolvimento por temor e quem se abre para a experiência com lucidez. Quando uma relação se forma entre esses dois polos — um que se oferece e outro que já se antecipa como ausente —, o vínculo se organiza em desequilíbrio desde o início. Não se trata de intensidade demais, mas de falta de reciprocidade mínima.

O desencontro, então, não é efeito do tempo ou das circunstâncias. Ele já estava presente na forma como cada sujeito se posicionou diante da possibilidade de ser afetado.

E por mais que o discurso do desapego pareça moderno, leve ou maduro, é preciso dizer: há maturidade também em sentir. Há ética no gesto de desejar. Há consistência na escolha de sustentar o risco de um laço.
Nem toda ausência é respeito.
Nem todo silêncio é liberdade.
E nem todo “tá de boa” é sinônimo de saúde.

Às vezes, é só defesa.
Às vezes, é só alguém que já decidiu não estar — e disse isso da forma mais elegante que conseguiu.

Reconhecer isso não anula o afeto, mas reorganiza a direção do investimento.
Quando a presença do outro já é ausência em ato, permanecer é consentir com o vazio.

Nessa hora, o gesto mais lúcido não é insistir —
é recuar antes que a espera se transforme em ferida.
É sair não por fraqueza, mas porque nada foi oferecido que justificasse permanecer.
Não há vínculo onde só um se implica.
Não há reciprocidade onde só um sustenta desejo.
E insistir onde já se anunciou a ausência é fabricar, pouco a pouco, a própria dor.

Às vezes, o cuidado consigo começa no corte precoce.
Antes que a carência do outro se torne um espelho da sua.

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Sheila Schildt Psicóloga, Psicanalista, Supervisora Clínica, Professora Coordenadora no IPC RS, Especialista em Psicologia Infantil e TEA (Transtorno do Espectro Autista), aplicadora ABA, com experiência em Avaliação Psicológica. CRP 07/18674.
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O amor como enigma: quando o desejo do outro nos abandonaHá uma dor que não tem nome no DSM, mas que atravessa o sujeito...
26/07/2025

O amor como enigma: quando o desejo do outro nos abandona

Há uma dor que não tem nome no DSM, mas que atravessa o sujeito como uma ferida narcísica aberta: a de nunca ser escolhido. Não se trata apenas da ausência de um parceiro ou da frustração romântica. É algo anterior, mais primitivo — a sensação de não ser visto como suficientemente digno de permanência.

Essa dor não começa no encontro amoroso, mas é nele que ela se atualiza. Cada silêncio, cada afastamento, cada vínculo que se desfaz sem consistência toca um ponto da estrutura que clama: “o que há em mim que nunca basta?”

A psicanálise nos ensina que o sujeito se constitui no campo do desejo do Outro. Ser amado não é só uma experiência afetiva, é um modo de ser reconhecido como existente. Quando o Outro não deseja, ou deseja mal — de forma invasiva, negligente ou intermitente — instala-se no psiquismo uma busca incessante por reparação. Mas o que se busca não é o amor em si. É o reconhecimento que faltou na origem.

O problema é que, ao se tornar consciente desse processo, o sujeito se vê diante de um paradoxo: não quer mais se submeter à mendicância afetiva, mas ainda carrega a fome ancestral por um olhar que o legitime. Então o amor passa a ser vivido como luta — entre o que se sabe e o que ainda se deseja. Entre a maturidade conquistada e a criança interna que chora pelo colo que nunca veio.

Quem atravessa esse dilema — lúcido, ético, emocionalmente disponível — sofre pela escassez de encontros verdadeiros, e sofre também pela impossibilidade de voltar a aceitar o que antes já bastava. Trata-se de um ponto de não-retorno psíquico: quando o sujeito se recusa a trair a própria inteireza para caber nos moldes alheios. A dor, nesse caso, não é patológica. É o sintoma de um crescimento que ainda não encontrou espelho.

O que fazer com isso? Talvez, como dizia Lacan, suportar o real sem sentido do desejo, sustentando o vazio sem preenchê-lo com qualquer presença que anestesie momentaneamente. Talvez, como dizia Winnicott, reconhecer que há momentos em que o cuidado só pode vir do próprio gesto de se segurar.

Essa dor que parece não ter nome, na verdade, tem estrutura. Tem história. Tem repetição. E ao ser dita — com letras, com corpo, com escuta — ela pode começar a se deslocar do acting para o símbolo.

Porque só o que pode ser simbolizado escapa de se repetir. E, enquanto não há encontro no real, é possível sustentar o desejo como espaço — não como falta, mas como abertura. Nem todo amor precisa ser vivido para ser verdade; alguns precisam apenas não mais ser encenados como suplência.


Sheila Schildt Psicóloga, Psicanalista, Supervisora Clínica, Professora Coordenadora no IPC RS, Especialista em Psicologia Infantil e TEA (Transtorno do Espectro Autista), aplicadora ABA, com experiência em Avaliação Psicológica. CRP 07/18674.

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