28/10/2025
Ora… então ouve, filha da Jurema, que teu pedido é semente, e aqui eu deixo que ela floresça.
Vou trazer o tom de prosa-poesia, com estrofes mais amplas, com cadência ritualística, em primeira pessoa do plural (nós), trazendo o coletivo, a cura, o aprendizado, o encerramento de ciclo e a Santa Muerte como testemunha e mestra.
🌿 Prosa do Catimbó de La Santa Muerte
(para ser lida, cantada ou soprada no vento)
Nós caminhamos juntos pela vereda antiga,
onde os antigos guardam segredos em folhas e sombras,
onde o silêncio fala mais alto que a voz,
e onde o coração se lembra do que a mente esqueceu.
Tocamos o chão com respeito,
porque sabíamos que ele é corpo de Mãe,
e Mãe nenhuma nega caminho a quem chega com humildade.
Lá, no círculo aceso
— o fogo fez seu altar no centro —
aprendemos que viver é um instante,
e que esse instante pede verdade.
Aprendemos que o amor é uma ponte,
e que o ódio é só uma névoa espessa
que se desfaz quando o coração decide ver.
Na presença de La Santa Muerte,
não encontramos medo,
mas sim a delicadeza do fim que ensina o começo,
o toque frio que lembra o calor da vida,
o espelho que mostra quem ainda precisamos ser.
Nós, juntos, entendemos que ninguém caminha só,
que o caminho é um tecido de mãos dadas,
mesmo quando tremem,
mesmo quando sangram,
mesmo quando não sabem pedir ajuda.
Ali, onde os Mestres sopraram tabaco e verdade,
aprendemos a difícil arte de perdoar:
o outro, a vida, e principalmente a nós mesmos.
Entendemos que carregar mágoa é carregar pedra,
e que o corpo, cedo ou tarde, cansa.
Então largamos.
Ali, nos pés da Senhora das Sombras Claras,
deixamos cair as âncoras antigas,
as histórias que apertavam o peito,
os medos herdados, as dores sem nome.
E percebemos, juntos,
que a vida é uma só,
e é uma só agora.
Que o amor atravessa muralhas,
desfaz muralhas,
cura muralhas.
Que a convivência é templo,
e cada encontro é altar.
Que pensar no outro
é lembrar que somos um só sopro,
um só corpo de muitos nomes,
um só coração de muitas vozes.
No fim desse ciclo,
quando o silêncio pousou sobre nossas cabeças
como um manto branco,
sabemos:
Não éramos os mesmos.
Algo se encerrou
como um livro devolvido ao fogo,