27/08/2023
“Todo mundo, e isso inclui tanto os terapeutas quanto os pacientes, está destinado a experimentar não apenas a alegria da vida, mas também sua inevitável escuridão: desilusão, envelhecimento, doença, isolamento, perda, sensação de falta de sentido, escolhas dolorosas e morte.
Uma das minhas histórias prediletas de cura, encontrada em ‘O jogo das contas de vidro’, de Hermann Hesse, envolve Joseph e Dion, dois renomados curandeiros, que viveram em tempos bíblicos. Embora ambos fossem altamente eficientes, eles trabalhavam de maneiras diferentes.
Em um momento da vida, Joseph cai em um melancólico desespero e é assaltado por ideias de autodestruição. Ele então decide sair em busca de Dion para ajudá-lo. Em determinado momento ele encontra Dion que, disfarçado, oferece ajuda e só um tempo depois confessa ser quem Joseph buscava. Eles então passam a viver e trabalhar juntos por anos, até que Dion cai doente e no leito de morte faz uma confissão a Joseph.
Dion confessou que, naquela época, o encontro tinha lhe parecido um milagre, pois ele também tinha caído em desespero. Ele também sentia-se vazio e espiritualmente morto, e, incapaz de se ajudar, havia partido numa jornada em busca de ajuda. Naquela mesma noite em que eles tinham se conhecido no oásis, ele estava numa peregrinação em busca de um curandeiro famoso chamado Joseph.
A narrativa de Hesse sempre me comoveu de maneira incomum. Ela me parece uma declaração profundamente iluminada sobre dar e receber ajuda, sobre honestidade e duplicidade, e sobre o relacionamento entre o curador e o paciente. [...]
Tudo isso ecoa as cartas de Rilke a um jovem poeta, nas quais ele aconselha: ‘Tenha paciência com tudo que não foi resolvido e tente amar as próprias questões.’ Eu acrescentaria: ‘Tente amar também os questionadores.’”
Trecho do livro “Os desafios da Terapia", por Irvin D. Yalom
E para você, como é a relação terapeuta e paciente?