13/05/2024
Eu pediria para ir com calma, e apagar com menos pressa às lembranças de momentos bons que foram traídos pelas falhas da memória.
Perguntaria de que país ou mundo ele veio, qual língua ele fala, e quem o classificou como sinônimo de uma lei simbólica no qual todos viram seus reféns.
Sentariamos juntos para um café, e eu falaria sobre suas dicotomias e delays no campo psíquico, explicaria que no mundo dos sentimentos, ao contrário do que dizem por aí, o tempo não cura e nem alivia nossas dores. No coração, a pulsão e as repetições não são apagadas pelas traças dos anos.
Eu falaria da minha profissão, e de como experiencias vividas no calendário de décadas passadas, ainda reverberam como se fosse ontem. Como analista, testemunho lágrimas ainda escorrerem sobre feridas abertas provenientes de outras gerações.
Seria o tempo do relógio um signif**ante fálico no campo psíquico? Ou seria o tempo lógico?
Nesta hora lembro de minha infância, minha versão criança caminhando pelas quinquilharias de relógios empoeirados na relojoaria de meu pai. Pelo som que o relógio emitia, ele identif**ava o problema. Desmontava pacientemente peça a peça, nem sempre era no tempo que ele queria, às vezes a máquina precisava engrenar, engraxava, esperava e pimba! Vida nova!
Como analista, pacientemente removo peças, identifico com cuidado feridas simbólicas e sobretudo escuto o som que as pessoas emitem.
Talvez eu seja relojoeira de pessoas.
E percebo,
que do lado de dentro,
Cada um dita seu tempo como pode.
Maria Eliza Vilela
Psicóloga Clínica