30/06/2016
Nascida em Florença, Itália, em 12 de maio de 1820, tendo sido educada em padrões superiores ao que recebiam as mulheres na época, com expressivo conhecimento em ciências, matemática, literatura e artes, além de filosofia, história, política e economia, dando-lhe um caráter bastante diferenciado em seu tempo.
Fazendo parte da aristocracia inglesa, tinha aspirações em relação ao trabalho social. Essas características levaram-na ao envolvimento na Guerra da Crimeia, com postura revolucionária em relação às condições de assistência prestadas aos soldados ingleses feridos na frente de guerra, resistindo à burocracia e buscando melhorar a qualidade dessa assistência, brigando por materiais específicos, além de alimentos, leitos e material de higiene ambiental e pessoal nos alojamentos assistenciais.
Envolvida pela busca incessante de uma qualidade nesta assistência, Nightingale criava condições para o bem-estar dos feridos de guerra ou não, incentivando e exigindo infraestrutura humanitária e social, como lavanderia, biblioteca, redação de cartas e até meios para que os soldados tivessem como economizar seus salários, além de um hospital para as famílias que estivessem nas frentes de batalhas.
Preocupava-se com o conforto aos enfermos e aos que estavam em estado terminal, envolvendo-se em questões administrativas de eficácia e eficiência plenamente reconhecidas por seus superiores. Finda a guerra, dedicou-se ao ensino da enfermagem, estimulando e abrindo escolas de enfermagem, marcando sua época na profissão.
Faleceu em 13 de agosto de 1910, e esta data é até hoje celebrada na Igreja de St. Margaret, em East Wellow, Inglaterra, sendo considerada como a mãe da enfermagem moderna. Em Kaiserwerth, Alemanha, surgiu a primeira escola de enfermagem organizada no mundo, em 1836, que ensinava às camponesas locais noções de higiene ambiental e pessoal.
Em 1850, por 14 dias Nightingale realizou visita a esta escola, candidatando-se à mesma e manifestando seu desejo de tornar-se enfermeira, tendo sido admitida em 6 de julho de 1851, permanecendo lá por três meses, levando para a Inglaterra os conhecimentos adquiridos, onde se envolveu na luta por reformas na área de saúde e bem-estar dos cidadãos ingleses.
Ela não concordava com as condições no país, que restringia a participação da mulher na política social e governamental. Sua missão na Crimeia, na vida militar, foi extremamente penosa, pela rejeição à figura da mulher nesse tipo de condição. Encontrou no campo de batalha alojamentos assistenciais precários e infestados de insetos, ratos, com esgoto a céu aberto, possibilitando a ocorrência de infecções letais e transmissíveis entre os feridos e sadios.
A taxa de mortalidade, nos níveis de 43%, era caracterizada muito mais pela transmissão de contaminantes e biológicos do que por ferimentos na batalha. A sua intervenção ambiental reduziu, em menos de seis meses, esta taxa para apenas 2,2%, conquistando reconhecimento e respeito pelo trabalho desenvolvido.
Seus relatórios manuscritos foram entregues ao Ministro da Guerra na época, Sidney Herbert, com aplicações estatísticas, iniciando o movimento de reforma hospitalar no país. Este trabalho rendeu-lhe reconhecimento e admissão como membro da Royal Statistical Society, em 1858, sendo considerada, com inteira justiça, como a primeira enfermeira pesquisadora no mundo.
Nightingale utilizou intensamente a observação dos fatos e eventos, associando-os à incidência e prevalência dos agravos e da doença como abordagem dos cuidados de enfermagem a serem desenvolvidos. Esses conhecimentos e a sábia utilização de conceitos administrativos organizacionais e estruturais se instituíram no principal enfoque de seu trabalho, com adequado controle ambiental, envolvendo indivíduos e famílias no processo.
Enfatizava a importância da ventilação e iluminação nos quartos dos pacientes, escrevendo “Notes and Nursing”, como forma de orientação aos cuidados em Enfermagem, que se constituiu em um marco sobre a organização e manipulação dos ambientes dos enfermos.
Interpretava a doença como um processo reparador, definindo a enfermagem como diagnóstico e tratamento das respostas humanas aos problemas de saúde vigentes ou potenciais. Escreveu também “Notes on hospitals in introductory notes lyingin institutions” (primeiros centros de maternidade).
A influência do ambiente sobre o ser humano e sobre a natureza crítica do equilíbrio entre eles foi a principal característica de seu trabalho científico. Nightingale foi a primeira a incentivar a existência de instituições específicas para a maternidade, afastada dos enfermos, por meio de análise de dados sobre a mortalidade neonatal e no parto, recomendando cuidados ambientais e a lavagem persistente das mãos para eliminar a febre puerperal, principal causa da mortalidade na época.
Também trabalhou com enfoque nas características ambientais gerais, como iluminação, ruído, ventilação, higiene ambiental, cama, roupa de cama e nutrição. O desequilíbrio entre estes exigiria maior energia do indivíduo, assim, originando o estresse e prejudicando a recuperação e reabilitação do enfermo. Seus conceitos e ideias se estendiam, inclusive, aos domicílios, ressaltando a importância da água pura e higiene ambiental e pessoal como fatores de saúde.
Acreditava que a pessoa poderia adoecer se respirasse seu próprio ar, sem renovação, e preocupava-se com o ambiente externo às casas como fator de desequilíbrio (poluição, gases, excrementos). Tinha atenção especial com os utensílios dos enfermos, como louças. Cuidava, com a mesma atenção, da temperatura dos ambientes.
Com relação à luz, enfatizava a importância da luz solar para a saúde e alertava para o fato de os hospitais da época não atentarem para esse aspecto durante suas respectivas construções. Quanto ao ruído, era bastante enérgica e rigorosa com relação aos sons ambientais que importunavam os pacientes e exigia que a enfermeira sob seu comando estivesse sempre atenta a essa questão.
Sua preocupação com a saúde ambiental chegava, inclusive, às cores, quadros e pinturas do ambiente como fator de conforto e bem-estar, e defendia processos terapêuticos pelo lazer, trabalhos manuais, leitura e escrita. Quanto às roupas de cama e colchões, preocupava-se com a questão da permeabilidade destas superfícies.
Nessa observação, levantou que o adulto exalava, aproximadamente, 1,5 litros de umidade pelos pulmões e pele nas 24 horas, constituindo-se em matéria orgânica que impregnava as roupas, favorecendo o desequilíbrio de saúde pelo desconforto causado, lembrando sempre o cuidado que o enfermeiro precisava ter em não se inclinar ou sentar-se na cama, e que esta deveria estar próxima à janela e à luz solar.
Entendia que essas roupas, se não bem cuidadas e ajustadas à cama, causavam lesões na pele do enfermo pela pressão exercida em pontos específicos. Suas observações atingiam também o aspecto nutricional, identificando que as refeições em pequenas e regulares porções favoreciam a recuperação do enfermo.
Embora suas preocupações tivessem como foco o ambiente físico, Nightingale não se descuidava do ambiente “social e psíquico do enfermo, tendo incluído em seu primeiro livro um capítulo sobre esse aspecto, denominado “Conversando sobre Esperanças e Conselhos”, observando a relação entre doença, morte e pobreza, com observações e estudos estatísticos e epidemiológicos que fundamentavam inúmeras cartas e protestos aos governantes.
Apregoava como objetivo principal para a enfermagem que o melhor a ser feito seria colocar o paciente na melhor condição para que a natureza aja sobre ele, e que este deveria ter o menor gasto possível de energia com os fatores ambientais que possam causar desequilíbrios.
Florence acreditava que a enfermagem deveria estar atenta não somente aos enfermos, mas também aos sadios, buscando meios de promoção da saúde. Acreditava que a enfermagem poderia atuar no ambiente como um todo, para que o enfermo obtivesse o equilíbrio necessário e, assim, a natureza faria o resto para a recuperação e reabilitação.
Dizia, em seus escritos, que a mais importante lição prática a ser dada às enfermeiras é ensiná-las a observar (e como observar) que sintomas indicam melhora/piora, quais são importantes ou não, quais evidenciavam negligência ou não. Esse conceito, tão atual, mostra que já naqueles dias Nightingale conseguia evidenciar a importância da observação como método primário de coleta de dados, para avaliar respostas do cliente à intervenção.