14/07/2023
No início da vida, o bebê não é uma unidade. A unidade é feita pela dupla mãe-bebê. O psicanalista e pediatra Donald Winnicott, que olhava com importância para o ambiente nos primeiros momentos de vida, chamou de "procupação materna primária" o estado de sensibilidade intenso que a mãe vivencia ainda na gestação e que vai até os meses iniciais da vida do bebê. Essa fusão emocional permite que o bebê satisfaça sua dependência absoluta, já que fora da relação com alguém capaz de suprir suas necessidades físicas e psíquicas, o bebê não existe.
Enquanto o bebê em sua dependência desfruta e se desenvolve a partir dessa relação, a mãe também sente a partir desse estado particular um 'hiato perinatal', onde o tempo e o mundo externo, antes tão percebidos pela mulher, passam agora por mudanças na importância, na percepção e consequentemente na mudança de identidade de si mesma.
E tão importante quanto a entrada nesse estado de fusão da preocupação materna primária para ambos, também é, aos poucos, sua saída. É a abertura para a possibilidade da mãe ser percebida de outra forma pelo bebê e da mulher-mãe encontrar-se novamente com o mundo externo, podendo investir também em outros objetos de desejo e sendo "mãe suficientemente boa", como chama o mesmo autor, transição importante para a dupla.