27/01/2023
Sobre a noite que não tem fim
Não sou muito de me manifestar por aqui, mas acredito que como psicóloga e cidadã e ser humano devia compartilhar umas palavras. Como disse uma colega psi, escrever me ajuda elaborar também.
Eu lembro onde eu estava em 27 de janeiro de 2013. Lembro do meu celular tocando, das mensagens dos amigos, da angústia, da dor e da tristeza. Essa mesmo depois de 10 anos ela ainda aperta aqui no peito.
Fazia exatamente uma semana que eu havia deixado minha cidade natal, minha amada Santa Maria. E uma semana antes daquela fatídica noite eu estava também na Kiss, findando o ciclo de universitária, me divertindo com amigos. Pois sim, talvez não saibam, mas a Kiss era bastante frequentada. Se um local está aberto a gente acredita que ele está regular para funcionar. A gente confia nas autoridades, confia que existe alvará certo, que houve fiscalização e não houve corrupção.
Pois é. Infelizmente nesse país não é bem assim que as coisas funcionam. Sempre dão "um jeitinho", só que esse "jeitinho" pode custar vidas.
Eu lembro do dia 27 de janeiro de 2013 cada vez que respondo a pergunta da onde eu sou.
Santa Maria é onde eu nasci, onde vivem meus familiares, é onde eu voltei pra estudar e cursar faculdade, Santa Maria era conhecida por ser a mãe que acolhia tantos estudantes que vinham de outras cidades ali buscar seu futuro. Hoje quando digo que sou de Santa Maria a primeira coisa que dizem é: "ah a cidade da tragédia?" E como dói escutar isso. Hoje a cidade Mãe é marcada pelo luto e tristeza de tantas Mães e famílias.
Hoje aqui tão distante, 10 anos depois, o dia amanheceu triste e chuvoso, o clima reflete um pouco do sentimento.
Minha solidariedade a todas essas famílias 🤍
Meu respeito e admiração a todos os colegas profissionais psis que acolheram e seguem no trabalho de elaboração dessa história.
PS: foto da esquina da rua onde morava, exatamente uma quadra da boate Kiss.