
08/06/2025
Kalunga das almas.
"Kalunga: Despedida, Encerramento e Recomeço"
Hoje foi dia de despedidas, encerramento não é confortável, mas é necessário deixar que a terra ou as águas levem. Não podemos colocar sementes em terra infértil. Despedir dói... como uma filha de Kalunga eu sou obrigada a lidar constantemente com perdas e chegadas, partidas e recomeçar. No caminho com os Ancestrais suas maiores conquistas será superar seus maiores desafios e medos . Em minha sepultura eu me reconecto e volto como quem já esteve no outro lado e sempre volta. Porque eu conheço esse caminho.
Em nome dos que vieram antes, eu falo.
Em nome dos que se foram, eu silencio.
E no silêncio, ouço o chamado profundo de Kalunga.
Kalunga é portal.
É mar, é abismo, é berço e sepultura.
É o ventre da Terra que tudo guarda,
e o sopro do tempo que tudo renova.
Hoje, aqui, neste chão ancestral,
entoamos o cântico da despedida.
Com lágrimas sagradas, devolvemos
aquele ou aquela que amamos
ao colo dos que não morrem — apenas atravessam.
O axé que um dia habitou esse corpo
volta ao infinito, volta ao Orum.
Não há fim — há retorno.
Não há perda — há passagem.
Colocamos velas, flores, saudades.
Oferecemos silêncio, canto, saudação.
E o que era dor começa a se tornar raiz.
Raiz que firma, que sustenta, que ensina.
Nossos ancestrais nos dizem:
"Chorem, sim. Mas não parem.
O luto é caminho — e não prisão."
Então, recomeçamos.
Mais fortes por causa do amor que ficou.
Mais sábios por causa da dor que moldou.
Mais vivos por termos tocado de perto
o mistério sagrado do morrer.
Que as águas de Kalunga levem o que precisa partir.
Que as ondas tragam força para o que vai renascer.
E que o axé do mundo invisível nos banhe com coragem
para seguir — inteiros, apesar da ausência.
Laroyê. Ela é filha de Kalunga .carrega o mar 🌊 e o cemitério como seus maiores aliados ,não tente nadar em águas rasas com ela .