Psicologia Clínica

Psicologia Clínica A importância do acompanhamento psicoteràpico no cotidiano, reflexões sobre adoecimento físico, psiquico, emocional, saúde e qualidade de vida.

O SAPORubem AlvesEra uma vez um lindo príncipe por quem todas as moças se apaixonavam. Por ele também se apaixonou uma b...
08/11/2019

O SAPO
Rubem Alves
Era uma vez um lindo príncipe por quem todas as moças se apaixonavam. Por ele também se apaixonou uma bruxa horrenda que o pediu em casamento.
O princípe nem ligou e a bruxa ficou muito brava. “Se não vai casar contigo não vai se casar com ninguém mais!” Olhou fundo nos olhos dele e disse: “Você vai virar um sapo!” Ao ouvir esta palavra o príncipe sentiu uma estremeção. Teve medo. Acreditou. E ele virou aquilo que a palavra de feitiço tinha dito. Sapo. Virou um sapo.
Bastou que virasse sapo para que se esquecesse de que era príncipe. Viu-se refletido no espelho real e se espantou: «Sou um sapo. Que é que estou fazendo no palácio do príncipe? Casa de sapo é charco.” E com essas palavras pôs-se a pular na direção do charco. Sentiu-se feliz ao ver lama. Pulou e mergulhou. Finalmente de novo em casa.
Como era sapo, entrou na escola de sapos para aprender as coisas próprias de sapo. Aprendeu a coaxar com voz grossa. Aprendeu a jogar a língua pra fora para apanhar moscas distraídas. Aprendeu a gostar do lodo. Aprendeu que as sapas eram as mais lindas criaturas do universo. Foi aluno bom e aplicado. Memória excelente. Não se esquecia de nada. Daí suas notas boas. Até foi o primeiro colocado nos exames finais, o que provocou a admiração de todos os outros sapos, seus colegas, aparecendo até nos jornais. Quanto mais aprendia as coisas de sapo, mais sapo ficava. E quanto mais aprendia a ser sapo, mais se esquecia de que um dia fora príncipe. A aprendizagem é assim: para se aprender de um lado há que se esquecer do outro. Toda aprendizagem produz o esquecimento.
O príncipe ficou enfeitiçado. Mas feitiço — assim nos ensinaram na escola — é coisa que não existe. Só acontece nas estórias de carochinha.
Engano. Feitiço acontece sim. A estória diz a verdade.
Feitiço: o que é? Feitiço é quando uma palavra entra no corpo e o transforma. O príncipe ficou possuído pela palavra que a bruxa falou. Seu corpo ficou igual à palavra.
A estória do príncipe que virou sapo é a nossa própria estória. Desde que nascemos, continuamente, palavras nos vão sendo ditas. Elas entram no nosso corpo, e ele vai se transformando. Virando uma outra coisa, diferente da que era. Educação é isto: o processo pelo qual os nossos corpos vão ficando iguais às palavras que nos ensinam. Eu não sou eu: eu sou as palavras que os outros plantaram em mim.
Como o disse Fernando Pessoa: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim”. Meu corpo e resultado de um enorme feitiço. E os feiticeiros foram muitos: pais, mães, professores, padres, pastores, gurus, líderes políticos, livros, lv. Meu corpo é um corpo enfeitiçado: porque o meu corpo aprendeu as palavras que lhe foram ditas, ele se esqueceu de outras que, agora permanecem mal...ditas...
A psicanálise acredita nisso. Ela vê cada corpo como um sapo dentro do qual está um príncipe esquecido. Seu objetivo não é ensinar nada. Seu objetivo é o contrário: des-ensinar ao sapo sua realidade sapal. Fazê-lo esquecer-se do que aprendeu, para que ele possa lembrar-se do que esqueceu. Quebrar o feitiço. Coisa que até mesmo certos filósofos (poucos) percebem. A maioria se dedica ao refinamento da realidade sapal. Também os sapos se dedicam à filosofia... Mas Wittgenstein, filósofo para ninguém botar defeito, definia a filosofia como uma «luta contra o feitiço” que certas palavras exercem sobre nós. Acho que ele acreditava nas estórias de carochinha...
Tudo isso apenas como introdução à enigmática observação com que Bahrnes encerra sua descrição das metamorfoses do educador. Confissão sobre o lugar onde havia chegado, no momento de velhice. «Há uma idade em que se ensina aquilo que se sabe. Vem, em seguida, uma outra, quando se ensina aquilo que não se sabe. Vem agora, talvez, a idade de uma outra experiência: aquela de desaprender. Deixo-me, então, ser possuído pela força de toda vida viva: o esquecimento...
Esquecer para lembrar. A psicanálise nenhum interesse tem por aquilo que se sabe. O sabido, lembrado, aprendido, é a realidade sapal, o feitiço que precisa ser quebrado. Imagino que o sapo, vez por outra, se esquecia da letra do coaxar, e no vazio do esquecimento, surgia uma canção. «Desafinou!” berravam os maestros.
”Esqueceu-se da lição”, repreendiam os professores. Mas uma jovem que se assentava à beira da lagoa juntava-se a ele, num dueto... Eo sapo, assentado na lama, desconfiava...
“Procuro despir-me do que aprendi” dizia Alberto Caeiro. «Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me, e ser eu...”
Assim se comportavam os mestres Zen, que nada tinham para ensinar. Apenas ficavam à espreita, esperando o momento de desarticular o aprendido para, através de suas rachaduras, fazer emergir o esquecido. É preciso esquecer para se lembrar. A sabedoria mora no esquecimento.
Acho que o sapo, tão bom aluno, tão bem educado, passava por períodos de depressão. Uma tristeza inexplicável, pois a vida era tão boa, tudo tão certo: a água da lagoa, as moscas distraídas, a sinfonia unânime da saparia, todos de acordo... O sapo não entendia. Não sabia que sua tristeza nada mais era que uma indefinível saudade de uma beleza que esquecera. Procurava que procurava, no meio dos sapos, a cura para sua dor. Inultimente. Ela estava em outro lugar.
Mas um dia veio o beijo de amor - e ele se lembrou. O feitiço foi quebrado.
Uma bela imagem para um mestre! Uma bela imagem para o educador: fazer esquecer para fazer lembrar!

Autoconhecimento. Autoestima.
16/07/2019

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Boa semana
15/04/2019

Boa semana

O pai que acalma o choro do bebê, que o balança no colo, que troca as fraldas e que lhe ensina as primeiras palavras não está “ajudando” a mãe, está exercendo o papel mais maravilhoso e responsável de sua vida: o da paternidade.

24/02/2019
12/02/2019

CFP manifesta repúdio à nota do Ministério da Saúde que representa retorno à lógica manicomial ao incentivar ampliação de leitos em hospitais psiquiátricos e liberar financiamento para compra de aparelhos de eletroconvulsoterapia, os ultrapassados choques elétricos.

Veja a matéria completa: http://bit.ly/RepudioNotaTecnica

O Aladim dos Caprichos Impossíveis - Fabrício CarpinejarO ansioso não é ansioso por ele, mas pelos outros.A ansiedade é ...
29/06/2018

O Aladim dos Caprichos Impossíveis - Fabrício Carpinejar

O ansioso não é ansioso por ele, mas pelos outros.

A ansiedade é raciocinar pelos outros, é concluir pelos outros, é resolver pelos outros.

Você escuta algo, toma aquilo como uma missão e deseja concluir rapidamente para voltar a pensar em si.

A ansiedade é uma generosidade inventada pelo egoísmo.

A ansiedade é correr contra o tempo com o propósito de voltar a ter seu próprio tempo.

A ansiedade é a compulsão de atender às expectativas de quem está do seu lado para retornar aos cuidados de suas próprias expectativas.

O dilema do ansioso é que procura agradar à sua companhia para não ser criticado. Mas sempre está a fim de algo pessoal que não sobra tempo.

É alguém que come o pior do prato e reserva o melhor para o final. Certamente a comida predileta restará fria na hora de ser garfada.

Não há discernimento entre o que é importante e o dispensável. Tudo é urgente, tudo é motivo de aflição, tudo é uma perigosa avaliação de seus atos.

A próxima atividade, apenas por ser a próxima, é de absoluta premência. O pequeno e o grande têm o mesmo valor. O simples e o épico têm igual medida.

O problema do ansioso é que ele converte qualquer solicitação em prioridade. E como só consegue começar uma tarefa quando terminar a anterior, sua rotina transforma-se em gincana.

Ninguém está pedindo ou solicitando nada, só que ele se posiciona como o provedor do universo, como o telepata do casamento, como o Aladim dos caprichos impossíveis.

Como se fosse um marido saciando infinitamente os rompantes esquisitos de sua esposa gestante. E sua esposa ainda nem está grávida.

O ansioso é carente, pois nunca se julga satisfeito consigo.

O ansioso é insaciável, pois não para nem para comemorar seus feitos.

O ansioso não avalia as possibilidades, ele prefere descartá-las cumprindo uma por uma.

Se a mulher comenta que precisam comprar roupa de cama, incorpora as palavras dela como uma ameaça e pretende amanhecer na loja e se desobrigar da tarefa.

Mas ela não falou para realizar naquele instante, era uma intenção para ser cumprida durante o mês, mas o mês para o ansioso é ontem e ele não admite esperar. Ele não suporta acumular planos. Plano é tensão, plano é pendência, plano é uma decepção agendada.

Parte da hipótese de que senão fizer agora não fará nunca mais. Mas é mentira. Ele faz rapidamente porque odeia ter compromissos em aberto. Abomina ser pressionado e se pressiona terrivelmente. Ele se cobra para não ser cobrado.

Seu prazer está em finalizar os atos, não em desfrutá-los. Perde o melhor da vida que é não se preocupar naquilo que virá depois.

O ansioso é um doente terminal com excesso de saúde. Morre de uma doença imaginária.

Endereço

Av. João De Barros,434 - Empresarial Recife ONE
Recife, PE

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