
26/07/2025
Cerca de quatro meses antes de morrer, Jung respondeu por carta a um interlocutor que lhe perguntava o que considerava mérito seu na moderna psicologia, ao que respondeu afirmando que "não faz sentido analisar minhas próprias opiniões a este respeito. Tudo está nos meus livros. Se alguém encontrar neles algo de valor, pode formar o seu julgamento".
Essa carta é muito importante não apenas por ter sido uma das suas últimas, mas por nos permitir perceber a consciência que o Jung tinha de sua obra e do modo como alguns (ou muitos) dos seus alunos, especialmente os anglo-saxões, pareciam ter dificuldades em compreendê-la, fato que persiste até hoje.
Retomo estes pontos já abordados em outros posts pela relevância no dia em que celebramos os 148 anos de seu nascimento.
Primeiro, pelo fato de que malgrado a popularidade gozada por Jung atualmente, há uma quantidade assustadora de pessoas que continuam não estudando seriamente suas contribuições à psicologia científica, seja por desinteresse, por falta do adequado estímulo ou por serem motivo de chacota de professores que sem conhecimento da matéria resolvem zombar ou menosprezar o que não conhecem.
Segundo, pela lamentável influência de um contingente de anglo-saxões que continuam sofrendo de uma deficiência percebida com clareza pelo Jung: "entendem mal o ponto de vista empírico por falta das necessárias premissas epistemológicas".
Deficiência essa que os leva sempre a tentarem inovar numa área que nem entenderam os fundamentos, inventando teorias sem base fenomenológica que as sustente, ou caindo na tentação de fazer um recorte mal ajambrado do Jung e chamar de "psicanálise junguiana". Note-se logo de quem é iniciativa?
Desta forma, que possamos refletir nesta data significativa sobre o fato óbvio de que para de fato colaborar com a obra do Jung, precisamos primeiro nos tornar reais especialistas nela. Da mesma forma que para criticar, também é preciso estudá-la, se não quiser ser acusado de má-fé e ignorância.
Obrigado, Jung!
📚 CARTAS III, 17.02.1961
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Anderson Santiago da Silva
Psicólogo (CRP 02/181788), supervisor clínico e especialista em Psicologia junguiana com enfoque na clínica