23/07/2020
O cliente deve pagar pela sessão que faltou?
É correto o terapeuta receber pelas sessões onde o paciente não compareceu?
o cliente deve pagar pela sessão que faltou?
Como se fosse um valor mensal independente de comparecer às sessões ou não?
Sim. É eticamente e tecnicamente correto.
Toda forma de tratamento ou treinamento contínuo deve ser remunerado independentemente do comparecimento do cliente.
Se você deixa de ir à academia, você, ainda assim, paga à academia?
Se seu filho deixa de ir à escola, você paga à escola?
Se o aluno deixa de ir à escola, o professor deve ser remunerado?
Sim, sim, sim e sim e mais outro sim.
Vou colocar isso de forma bem simples. Existe aqui uma questão prática e outra técnica.
A prática está relacionada ao fato do profissional receber pelo seu trabalho. Mesmo o paciente não indo à sessão, o profissional esteve disponível para ele. O exemplo do professor é bem claro. O professor não recebe mais ou menos por cada aula dependendo da quantidade de alunos que compareceram.
Trata-se, portanto, de reconhecer, valorizar um serviço que está sendo prestado, mesmo sem o paciente comparecer às sessões.
Agora, vamos para a parte técnica.
Mesmo o paciente faltando à sessão, essa sessão ocorreu. É importante entender isso no caso da psicoterapia. Diferente da academia, que você não está malhando quando não vai à sessão, faltas para a terapia podem fazer parte do processo terapêutico. Existe, inclusive, uma recomendação aos psicólogos, psicanalistas, que no tempo que o paciente se ausenta, ele não aproveite para resolver outras questões. Justamente porque por trás de uma falta, existe um sentido que precisa desse tempo construtivo para ser analisado.
Faltas, esquecimentos, desculpas, etc, tudo isso faz parte da terapia e é material importante para mesma. Como já disse em outros textos, o “X da questão” pode estar muito mais na sua falta do que na sua presença.
Quando eu leio essas perguntas iniciais do texto, “o cliente deve pagar pela sessão que faltou?”, eu penso “por que você não está querendo pagar a sua terapia?”. Com certeza existe um sentimento por traz dessa pergunta e ele é importantíssimo para a sua análise. Talvez você não esteja se sentindo acolhida ou nutra sentimentos de raiva em relação ao seu terapeuta, por exemplo. Não tenho como saber, mas é certo que o buraco é mais fundo (sempre é) e, assim, essa questão não é simplesmente prática e financeira.
Recordo o leitor a outro texto que falei sobre a função do dinheiro na terapia:
“Realizar uma psicoterapia é um trabalho difícil. Ela é cheia de obstáculos. Um deles é a resistência dos próprios pacientes, visto que fazer terapia é tocar na ferida. Algo que não se chega pronto para fazer quando se procura a psicoterapia. O mais comum é “eu quero me livrar dos meus sintomas, mas não estou disposto (a) a mudar”. Bom, lamento informar que uma coisa está relacionada a outra. Felizmente temos muitos recursos para lidar com isso. Mas quando os convênios dificultam a terapia, eles fortalecem uma resistência que já estava lá. Pior ainda, um desses recursos que mencionei é o próprio dinheiro. Por exemplo, na clínica escola, onde se realizam atendimentos sociais, é cobrado um valor por sessão de acordo com a renda da pessoa atendida. Seja ele 40 reais, 20 reais, ou 1 real. E esse 1 real pago por sessão é importantíssimo para o andamento da mesma. Existe um valor simbólico no dinheiro que na sessão por convênio é eliminado. Resta somente à relação entre o paciente e o terapeuta a sustentação das sessões”.
Portanto, se o seu terapeuta não cobra as suas faltas, ou ele deveria voltar para a universidade ou, e eu apostaria nessa alternativa, ele precisa falar com o analista dele sobre o porque de ele não conseguir cobrar pelo seu serviço.
Algo está errado.
Texto de Gregório De Sordi 👇🏻
https://porquesera.com.br/pagamento/