02/04/2019
Diversos pacientes, após algumas sessões em meu consultório, confessam a mim o medo e a insegurança que tiveram ao procurar por psicoterapia. Dizem a respeito do tempo que esperaram entre o desejo de buscar o espaço de análise e a concretude da procura, as diversas indicações que receberam e descartaram, e principalmente sobre o acumular de angustias e sintomas que culminaram na gota d’agua que então os levaram à poltrona a minha frente. E eu me pus a pensar o estigma e o pré-conceito que a terapia, bem como seus seguidores e frequentadores sofrem. Para alguns desavisados, psicólogos são pessoas estranhas e alternativas, os pacientes são todos loucos e no final tudo é culpa da mãe.
À todos aqueles que topam iniciar a jornada da autodescoberta ao lado de um psicólogo direi aqui o que exclamo aos meus pacientes no consultório: “Bravo! Você é corajoso”. Digo corajoso porque ao lado de nossos terapeutas entendemos que as desculpas e sintomas são roupagens que escondem nossos desejos e medos, que quase sempre somos responsáveis por aquilo que fazemos, que é possível querer e não querer algo ao mesmo tempo, e que devemos dar aos outros o que lhes é de responsabilidade sem acharmos que à nós foi dado o peso do mundo. A arte de (des)cobrir-se é linda, assustadora, e algo que lhe marcará para sempre. Penso eu, como analista e analisada, que nunca saímos iguais do encontro com nós mesmos.
Fazer psicoterapia é um desafio. Descobrimos que não mais conseguimos nos esconder de nós mesmos e então passamos a nos haver com as consequências de nossas escolhas. O preço: alguns dirão que a ignorância é uma benção. O ganho: a melhora do autocontrole, do entender de si (com desejos e limitações) e o movimento que inevitavelmente ocorrerá pela descoberta do que se quer.
Será que parte do receio de buscar um psicólogo e fazer terapia possa estar no medo de comprometer-se com suas escolhas, sustentar suas consequências e bancar os movimentos da mudança? Apostaria que sim!
Concluo que muitos daqueles homens e mulheres que encaram o divã ou o olhar de um analista são diversas coisas exceto “fracos”, “doentes” ou “incapazes”. Como um esportista que frequenta treinos ao lado de seus professores, meus pacientes trabalham incansavelmente suas mentes, esculpem seus receios, escarafuncham seus sintomas, bancam seus desejos e fortalecem-se para os desafios da vida cotidiana e das relações humanas. Se ao corpo, após uma ida à academia, reserva-se o direito de estar mais forte, mais saudável e melhor, por que não à mente, após a terapia, pensá-la da mesma maneira?
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