11/07/2018
Na história dos três porquinhos somos apresentados a três irmãos que estão construindo suas casas para proteger-se dos perigos da floresta. Os dois primeiros, querendo terminar logo a tarefa, constroem casas de palha e madeira, enquanto o terceiro, dedicando mais tempo à empreitada, ergue uma casa de tijolos.
Os porquinhos mais novos, vivendo pelo que Freud chamou de princípio do prazer, constroem casas rapidamente, buscando gratificação imediata, de forma a terem mais tempo livre para br**car, satisfazendo as pulsões do id. Por outro lado, o irmão mais velho, já regido pelo princípio da realidade, dedica tempo ao trabalho, sabendo que poderá desfrutar do descanso e do prazer depois de realizar sua tarefa com dedicação e afinco.
E o perigo que os porquinhos esperavam não tarda em aparecer. O lobo, na história, representa os aspectos destrutivos internos presentes em todas as pessoas, inclusive nas crianças, que ameaçam destruir tudo o que construímos. Se nossos vínculos (nossas relações) são pautados apenas no princípio do prazer, não poderão suportar a raiva, o descontentamento, a decepção e a angústia da separação, e esses aspectos destruirão tudo que foi construído.
Por outro lado, ao ser alicerçado com zelo, afeto e paciência, o vínculo suporta os aspectos impulsivos e destrutivos, tanto internos quanto externos, e pode permanecer, saindo ainda mais fortalecido de uma experiência que tinha tudo para ser desastrosa.
Pensando de forma prática: se a criança é ensinada a ter tudo que quer sem esforçar-se, aprenderá que não pode ser contrariada, e que tudo é fácil demais, o que poderá trazer prejuízos ao seu modo de criar amizades e manter relações, por não aguentar as decepções do outro (e todos erramos, afinal ninguém é perfeito). Na criança pequena, que relaciona-se majoritariamente com os pais, o vínculo poderá sofrer fortes abalos, condenado-a a um constante estado de insatisfação e desamparo.
A história dos Três Porquinhos nos ensina a viver pelo princípio da realidade, sabendo que o prazer e a diversão têm hora e lugar para acontecer. Para a criança é importante saber que certas obrigações precisam ser cumpridas, mesmo as mais básicas, como tomar banho e escovar os dentes, para só depois desfrutarmos de um tempo de diversão, já com os deveres realizados. Pode parecer contraditório, mas essa sensação é acalentadora, pois dá a criança a certeza de que o esforço e o trabalho são recompensados. Afinal de contas, no final da história, o lobo se dá mal e os porquinhos podem comemorar a vitória sem a preocupação do perigo os rondando.