22/10/2025
Aceitar o erro. Evitar a perfeição. Querer prever riscos para não evitar a falha, falha. Querer evitar frustração, insucesso, infortúnio, decepção, rupturas, amarguras, solidão é erro. Aceitar o caminho escolhido que culminou na rua sem saída e caminhar de volta, descalça, com fome até chegar a outro ponto de partida, ao marco zero depois de ter apostado quase todas as fichas no infalível também é vida.
Se abonar ainda que falida, exausta, bússola quebrada e perfazer estradas novas com 3 estrelas no céu. É assim, o início do que é humano e possível. Recomeçar miúda e alargar coragem que ainda nem existe direito. Ela vai aparecer com a 4ª estrela da tua nova constelação, a 4ª estaca do 4 de Paus do Tarot que anuncia o slogan 'tua casa, tua vida'. Engendrar meios de comunicação com o intraduzível através da fé forjada no silêncio dos prejuízos da perfeição inalcançada, porque esta nunca existirá, e ainda assim, orar a prece mais bonita e honesta sem o aparato de livro sagrado, a não ser aquele onde constam relatos da sua própria vida, especialmente aqueles pelos quais sente vergonha. Estes últimos têm grande poder de acesso ao numinoso, ao mistério de ser quem se é. Se retratar perante toda a vida não vivida por querer ter sido impecável. Rasgar e queimar a personagem cruel que sussurrou no ouvido do orgulho que você era insubstituível e você acreditou piamente no conto desse vigário. Reinterpretar a vida por olhos que ainda estão sendo esculpidos e ainda não são capazes de suportar tamanha luz do sol, mas que enxergam melhor que antes porque agora sentem. Se despedir da terra da razão pessoal, da certeza absoluta, do desejo de prever o imprevisível por não confiar na própria centelha do que se é.
Andar com fé.
Dizem que ela não costuma falhar.
Dedico esse texto aos meus de fé.
Com amor,
Xai 🌹