29/05/2025
Bebês Reborn em Hospitais: Um Sintoma da Saúde Mental Pública em Crise
Por Moína Lima ()
Terapeuta Integrativa e Complementar em Saúde 🌾🔮💫
O fenômeno de indivíduos que levam bonecos conhecidos como "bebês reborn" aos hospitais, exigindo atendimento como se fossem crianças reais, levanta preocupações legítimas do ponto de vista da saúde mental. Embora à primeira vista possa parecer um comportamento excêntrico ou inofensivo, ele revela camadas mais profundas de sofrimento psíquico, negligência institucional e uma crescente desconexão entre realidade e fantasia que merece atenção cuidadosa.
Os bebês reborn são bonecos hiperrealistas, confeccionados para imitar com precisão impressionante os traços de recém-nascidos. Embora seu uso seja comum em contextos artísticos, admirado por colecionadores e até utilizado como recurso terapêutico para pessoas em luto, o limite entre a função simbólica e o comportamento psicopatológico pode se tornar tênue. Quando esses objetos passam a ser tratados como seres vivos em ambientes públicos, como hospitais, ultrapassamos o campo da expressão pessoal e adentramos o território da saúde mental coletiva.
É necessário reconhecer que, em muitos desses casos, o que se observa não é apenas um ato isolado, mas o reflexo de um sofrimento emocional não endereçado. A substituição simbólica de um filho, a solidão crônica, o luto não elaborado, ou até mesmo transtornos psicóticos ou de personalidade podem estar em jogo. O problema não reside apenas na ação de levar um boneco a um pronto-socorro, mas na falha de uma rede de saúde mental em identificar, acolher e tratar esses indivíduos antes que comportamentos dessa natureza se manifestem.
A solução, portanto, não está na simples ridicularização ou criminalização dessas pessoas, mas em uma resposta pública eficaz e compassiva. Encaminhá-las para serviços de saúde mental é uma medida necessária, não como punição, mas como cuidado. Além disso, iniciativas de reintegração social, como o trabalho voluntário em creches comunitárias, podem ter valor terapêutico ao oferecer contato com a realidade concreta da infância e promover senso de utilidade e pertencimento.
No entanto, é preciso cautela. Inserir alguém com vulnerabilidades psíquicas em contextos de cuidado real com crianças exige supervisão técnica e responsabilidade institucional. Essas ações só são benéficas quando fazem parte de um plano terapêutico construído com ética, sensibilidade e acompanhamento profissional.
Em última instância, o caso dos bebês reborn em filas de hospitais não deve ser tratado como mera curiosidade midiática ou desvio bizarro. Ele aponta para uma crise mais ampla: o adoecimento emocional silencioso de uma parte da população que, muitas vezes, só encontra alívio no imaginário. É papel do Estado, da sociedade e dos profissionais de saúde mental garantir que essa dor simbólica seja acolhida, antes que se transforme em delírio coletivo.