14/04/2020
As Saudades na Quarentena
Não temos saudades apenas das pessoas que estiveram em nossas vidas. Temos saudades do amor, que nos permitimos sentir na presença delas. O que estamos sentindo falta e buscando ter de volta, às custas de lembranças e memórias guardadas, é a sensação de alegria que pudemos proporcionar ao nosso coração.
Talvez tudo não passe de uma grande e profunda saudade de nós mesmos.
Da parte de nós, que ousou ser completa.
Saudades de reconhecer e perceber a presença da felicidade no nosso corpo e na nossa alma.
Da mesma forma, não é o outro nem o que fez ou deixou de fazer, que nos dói e corrói agora. É a perceção aguçada do instante em que nos negamos viver, plenamente. É o arrependimento, de não ter sido tão inteiro. De ter se afogado no profundo lago dos próprios desejos. De ter, enfim, conseguido abrir a porteira trancada das paixões infantis, mas não ter conseguido sustentar-se, diante da volúpia de tantas represas juvenis.
Não temos saudades apenas do passado, impedido ou impelido para escanteio.
Temos saudades dos amores vividos e consentidos num grande estado de devaneio.
Temos saudades das atrações avassaladoras, que teimam em nos lembrar que há sangue percorrendo em nossas veias.
Temos saudades das borboletas que nos massageiam o estômago e cintilam o brilho de suas asas no fundo de nossas retinas.
Temos saudades dos abraços que confirmam a presença da nossa pele em contato com outra pele. Do calor, do v***r, do ardor e do sabor da nossa boca ao falar e encontrar com outra boca.
Temos saudades de quem fomos e de quem ainda seremos diante de outro Ser.
Somos dignos de saudades, mas, também, merecedores de novas chances de viver e sentir.
Basta reencontrarmos a chave guardada, no fundo do peito, para abrir a porta interna do amor, na presença ou na ausência do outro.
Flavia Azevedo
Psicóloga Transpessoal