16/11/2018
Diário de Parto – Um ato de fé e ciência.
Era Uma tarde de terça, e em uma consulta da rotina, Cris foi mandada pelo obstetra para investigar uma diabete gestacional - Acido úrico alterado, plaquetopenia, baixo peso do feto e uma alteração de pressão.
Seu áudio enviado pelo zap, misturava um pouco de medo e descrença, já que sua gravidez ocorrera desde o inicio, em perfeita ordem. Faltava um dia para completar 38 semanas, voltou para casa, reorganizou os últimos detalhes, e no dia seguinte, deu entrada pela manhã para o início de indução do parto.
Começamos trabalhar bem no início da gravidez, já que por sua queixa de uma pequena lombalgia por isso, fora incentivada à buscar um trabalho de reorganização postural. Suas queixas logo desapareceram: focamos a musculatura paravertebral, respirações, alongamentos, mobilidade pélvica e até isometria, em muitos momentos. Talvez pela relaxina, hormônio produzido durante a gravidez, se alegrava por sentir as articulações mais flexíveis; em sua prática sempre muito focada, relatava a determinação por optar pelo parto “normal”, terminologia usada elo fato de que aconteceria em um ambiente hospitalar.
Sua resistência, em buscar um parto “menos violento”, a fez mudar de obstetra, até conseguir validar acordos como não sofrer episiotomia, ou acelerar o trabalhos de parto por substâncias sintéticas. Porém sabia, que por conta de período de férias, podia não contar com a presença de sua médica na hora do parto...
Logo definido o diagnóstico, pré aclâmpsia leve, parte de seus sonhos foram interrompidos, e no dia 31 de agosto, às 8:30 da manhã, começou a indução do trabalho de parto.
Era um lindo dia de sol, mas parecia tudo um pouco anuviado. O Doutor chegou de seu plantão, e logo foi anunciando que tinha uma outra cliente em trabalho de parto também, em outra casa de saúde. Ao exame, Cris não tinha nenhuma dilatação, e foi colocada uma pílula local.... Havia um clima de tensão velado, a antecipação do parto definiu muitas variáveis, e uma delas era as férias da obstetra escolhida.
Chego cerca de uma hora e meia depois, Cris e Juan, encontravam-se apreensivos, mas em aparente calma, como não sabíamos o que poderia ocorrer, antecipadamente trocamos instruções via zap caso na hora houvesse algum impedimento na comunicação. Iniciamos um processo passivo, já que a pressão precisava estar estabilizada, com Shiatsu e Calatonia. Logo a seguir respirações, e fomos para a parte trabalhosa, caminhar nos corredores; Cris quase corria rsrssrs, fazer exercícios agachada, ou sobre a bola, dentre outros...
Quando as contrações começaram a ampliar, por diversas vezes Juan recitava salmos, e palavras bíblicas de incentivo, eu sequer ousava pensar que tudo poderia terminar em um processo cirúrgico, embora a voz da ciência, gritasse pelos corredores do hospital, nos ameaçando...
As horas avançavam, eles conjugavam o verbo contrair juntos, com auxílio de uma aplicativo, marcavam intervalo por intervalo, enquanto eu silenciosamente me mantinha deslizando as mãos oleadas em sua costas, usando todas as técnicas possíveis para diminuir a dor daquele lindo momento.
Já era madrugada e descemos para sala de parto, a equipe aos poucos chegava, já que se reestruturavam de outro parto. Eu mantinha a informação à família, que em suas casas, torcia para que tudo desse certo, e que nosso príncipe nascesse em segurança. Aos quase 46 do segundo tempo, Cris aceita um pouco da analgesia, embora não tirasse o mérito de todo esforço dela, sua crença em atrasar o trabalho de parto, cedera às pressões das quase 18 horas de parto, e como uma brisa manipulada pela tecnologia médica, ela respira um pouco mais aliviada e retoma o fôlego para fazer força.
A essa altura, já podíamos ver o Levi “coroando”, mas as curtas e pouco espaçadas contrações, não eram suficiente para que ele deslizasse do canal vaginal para fora. A posição de cócoras não foi suficiente para a expulsão, e em uma manobra certeira, o extrator á vácuo foi acoplado, enquanto Cris fez sua última força, e expirou de alegria com o choro do Levi, que nasceu saudável e esperto. Mais uma vez, a fé e a ciência se mantiveram cúmplices militando pela vida...
Parabéns Cristine e Juan, por acreditarem até o fim, ou melhor dizendo, início, que vale à pena lutar pelo que se crêr, e lutar por aquilo que se acredita. Afinal a ciência tende a crescer, quando se submete à sua vocação de criar meios de preservar a vida com qualidade, segurança e respeito.