17/06/2025
Repost from .de.psicanalise
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A pergunta retorna como quem tenta organizar a estante: a psicanálise f**a onde? Ao lado da TCC, da terapia humanista, da psicoterapia breve? Está no mesmo corredor ou precisa de prateleira própria?
Há quem diga: claro que é. Tem fala, escuta, sofrimento psíquico. E tem alívio, mudança, elaboração. A psicanálise faz bem — então é uma forma de terapia, mesmo que estranha, demorada, cheia de silêncio e palavras atravessadas.
Outros rebatem: não, não é. A psicanálise não promete cura, não trabalha com objetivos, não segue protocolo de melhora. Não orienta o ego, não prescreve caminhos. Ela aposta no sujeito, na escuta do desejo, no tropeço como marca — e não como erro. Seria quase um anti-método terapêutico, se a ideia de método ainda fizer algum sentido aqui.
Freud já tropeçava na definição: dizia que a psicanálise é mais do que um método terapêutico — é também um corpo teórico e uma forma de investigação. E desconfiava profundamente da palavra “cura”. Lacan ironizou o “psicoterapeuta” como aquele que deseja ser amado pelo paciente — e, por isso mesmo, talvez tão perigoso quanto o charlatão. Foucault alertava para as práticas que se vestem de terapêuticas, mas operam como dispositivos de normalização.
Ainda assim… tem quem saia melhor de uma análise. Ou não.
Tem quem não se mate porque encontrou um analista. Ou não.
Tem quem invente um novo laço, quem comece a se escutar, quem “enlouqueça menos.
Ou não.
Talvez seja aí que mora o desconforto: certas psicanálises não têm por objetivo tratar, mas algo nelas pode ter efeito de tratamento. Não pretendem melhorar ninguém — mas pode haver melhora. Não fazem promessas, mas sustentam uma aposta. Uma aposta no sujeito, naquilo que nele resiste, desencaixa, não se adapta aos ideais de saúde mental.