28/07/2025
No consultório, é comum encontrar mulheres exaustas de buscar o amor no olhar do outro.
Desde cedo, nos ensinaram que o amor vem de fora — que é preciso ser escolhida, desejada, validada.
A mulher, tantas vezes, é educada para se perceber a partir do Outro, como se só existisse no reflexo alheio.
E quando o amor não chega, ou quando chega ferindo, a culpa costuma pousar sobre ela — como se houvesse algo de errado em sua essência.
Mas, como nos lembra Simone de Beauvoir, "não se nasce mulher, torna-se".
E nesse tornar-se, aprendemos, por vezes, que o nosso valor está em ser útil ao desejo do Outro.
A clínica demonstra isso diariamente: mulheres que se moldam, se silenciam, se diminuem...
Tudo em troca de um lugar no afeto alheio.
Mas o amor que restaura não é o que salva — é o que sustenta.
É aquele que nasce quando a mulher começa a se ver, se escutar, se desejar.
Quando o "eu" deixa de ser ausência e passa a ser presença — viva, inteira, possível.
Não se trata de romantizar a solidão, mas de recusar o autoabandono.
Porque quando o amor vier — e ele virá — que não seja para resgatar.
Mas para caminhar junto.