13/08/2025
Nos últimos 15 anos, o uso de tecnologias no diabetes tipo 1 — como monitores contínuos de glicose (CGM) e bombas de insulina — cresceu de forma exponencial nos Estados Unidos. Hoje, mais de 80% das crianças e mais da metade dos adultos com DM1 utilizam CGM. Mas o dado que deveria acompanhar esse avanço ainda está distante: a meta de A1c < 7% continua sendo atingida por menos de 1 em cada 4 pessoas.
Um estudo de base populacional com quase 200 mil pacientes (Fang et al., JAMA Network Open, 2025) mostrou que, apesar de pequenas reduções na média do A1c (de 8,9% para 8,3% em jovens e de 8,2% para 8,0% em adultos), as disparidades sociais e raciais aumentaram. Pessoas brancas e com seguro-saúde privado tiveram maior acesso e melhores resultados. Entre negros e hispânicos, especialmente aqueles com seguro público, o controle glicêmico avançou pouco ou nada.
A mensagem é clara: a tecnologia não é autossuficiente. Para transformar dados em controle, é preciso treinamento individualizado, educação em diabetes contínua, apoio na adaptação de dispositivos, linguagem acessível e políticas públicas que reduzam barreiras financeiras e burocráticas. Sem isso, o risco é perpetuar um cenário em que os avanços beneficiam apenas quem já tem mais acesso.
No Brasil, onde o SUS começa a incorporar CGM para públicos específicos e alguns planos de saúde ampliam a cobertura, esse alerta é ainda mais relevante. A equidade no acesso, o suporte técnico e a capacitação dos profissionais serão determinantes para que a tecnologia seja, de fato, uma ferramenta de inclusão e não mais um fator de desigualdade.
Referência: Fang M, et al. JAMA Network Open. 2025 Aug 11. “Trends in Diabetes Technology Use and Glycemic Control in Type 1 Diabetes.”