
27/11/2024
Voltando ao tema sobre o lugar dos pais na clinica psicanalítica com crianças, um outro ponto sobre o porquê os escutamos se trata - ⚠️spoiler - que um dos elementos que compõem a queixa se refere à subjetividade dos pais.
Para escrever sobre isso, será necessário que eu faça uma voltinha. Vamos lá!
Em nosso processo de constituição psíquica, nos humanizamos na relação com pessoas que encarnam as funções materna e paterna. Geralmente são os pais, mas podem ser outros familiares. O que importa é que sejam pessoas que estejam implicadas nos cuidados destinados ao bebê - o tal do Outro para Lacan.
No exercício destas funções, o que se transmite está para além da satisfação das necessidades. O que também se transmite é a subjetividade de quem encarna as funções materna e paterna.
E a criança, por estar muito ligado a quem cuida e por também ser marcado pela subjetividade dos cuidadores, pode apresentar um sintoma que encena algum aspecto dessa subjetividade ou, ainda, algum comportamento pode ser lido pelos pais a partir de seu próprio universo subjetivo.
E aqui estamos diante de um dos desafios das analistas que não retrocedem ao atendimento com crianças: os pais podem (des)conhecer aspectos que compõem sua própria subjetividade. Aquilo que se queixam na criança pode ser algo que (des)conhecem em si mesmos.
O que se propõem nas entrevistas com os pais, então, é a escuta dessa subjetividade e, no caso a caso, construir o manejo possível. Não se toma os pais em análise, mas há um trabalho de que, a cada um, seja reordenada a sua parte na queixa. Pois assim há lugar para que possamos escutar a criança e avaliar se há alguma demanda dela, sujeito em constituição.