31/07/2024
Quem me vê hoje sorrindo e portando o título de doutor pode não saber o quão difícil foi percorrer a longa estrada que me trouxe até aqui. Foram subidas e descidas, becos e valas, terrenos pedregosos e pantanosos, muitas vezes me perdi, outras tantas pensei em desistir. O largo sorriso já foi choro, suor, sangue e dor.
Ser aprovado para um programa de doutorado bem conceituado como o PPGPS/UERJ é uma façanha e tanto. Desde o ingresso, em março de 2020, vivi diversos desafios.
Como cantam Lenine e Cazuza, o tempo e a vida não param. É o que costumo dizer para quem faz pós-graduação. A vida não para só porque você tem uma pesquisa para entregar, as coisas continuam acontecendo e as demandas não deixam de surgir.
No meu caso, logo de início, com apenas duas semanas de aulas, foi decretada a pandemia Covid-19. O mundo parou, o Brasil parou, o medo e a incerteza invadiram as nossas almas. Lembro que tinha acabado de me mudar para um apartamento que ficava muito próximo do meu antigo consultório. Bastava 2 minutos de caminhada para chegar ao local de trabalho. A mudança para o apartamento foi motivada justamente pela proximidade.
Mas, nem tudo é perfeito, o consultório ficou fechado por conta da pandemia e nos meses seguintes precisei entregar a sala e me desfazer de tudo. Foi difícil. Um espaço que lutei para construir.
De repente, tudo migrou para o digital. Os atendimentos passaram a acontecer de forma remota, as aulas que ministrava também. Uma sobrecarga enorme. Precisei administrar o luto do consultório e, muito pior, o luto pela perda pessoas queridas. Terrível sensação de impotência.
Vivi dilemas existenciais e passei por questões pessoais bastante delicadas. Foram muitas mudanças e transformações. Mudanças de emprego, outra mudança de casa, mudança de mentalidade.
É um processo difícil e que pouca gente entende. É uma renúncia absurda. Perdi a conta dos finais de semana e feriados que fiquei trancafiado lendo, escrevendo, coletando dados... Noites em claro. Quantos passeios, viagens, encontros e momentos de descanso e lazer que não aconteceram!
Conciliar pesquisa e trabalho é extremante difícil e exaustivo. É ter que lidar com a ansiedade por conta dos prazos e com a falta de tempo de qualidade para dedicar ao trabalho acadêmico. Além disso, culpa e mais culpa por me permitir, vez ou outra, sair um pouco da rotina para espairecer.
No meio disso tudo vivi o famoso Burnout e um quadro depressivo “hard”. Consegui me recuperar com muita ajuda. Graças a uma rede apoio incrível formada por pessoas que me amam e se importam comigo somado a um trabalho impecável de profissionais que me acompanham até hoje.
Nem tudo são flores, nem tudo é espinho. Ao percorrer essa estrada também encontrei belas paisagens. A mais bela, sem sombra de dúvidas, é a da chegada do meu filho Bernardo (em breve). Enquanto ele não chega, celebro o nascimento da tese, que não deixa ser um filho, que por sua vez, deu muito trabalho.
Gratidão por ter chegado até aqui.
Eu sobrevivi.