28/06/2025
Eu imaginei viver muitas coisas aqui na Indonésia, mas nenhuma delas era sentir a energia da morte tão presente. Algumas semanas antes dessa passagem da Juliana, presenciei, por acaso, um ritual fúnebre nas ruas de Ubud.
A morte como celebração. Algo que só tinha visto em Sonhos, do Akira Kurosawa, e que tinha me fascinado muito desde então.
As pessoas tocando, cantando e celebrando o fim de uma vida na Terra. Senti algo contraditório dentro de mim, ao admirar tão fascinada um ritual de morte.
Venho me perguntando o que me conduziu até aqui, justamente neste momento. O que me fez participar tão intensamente deste movimento de luta pela vida? Ao mesmo tempo em que me encanto com rituais de morte. E a única resposta que me vem é que eu estou aprendendo a morrer. Não a morte literal, quiçá ela também, mas a morte de tantas partes minhas que não queriam morrer, por medo do que vai restar.
Eu costumo romantizar bastante a vida e adoraria acreditar apenas no lado mais bonito que nascerá desta travessia, mas ando bastante desconfiada de mim.
Se me tornarei de fato uma pessoa melhor ou mais endurecida, mais desconfiada do bom caráter das pessoas, mais medrosa, mais fria e indiferente.
Ou talvez seja apenas um ideal de eu se desfarelando para surgir uma versão que nem eu mesma consigo imaginar.
Às vezes sinto que estou voltando aos meus vinte e poucos anos, quando o niilismo era quase um refúgio. Quando me escondia nos versos de Baudelaire, certa de que tudo era vão.
Então lembro do que me tornei tempos depois e amei tanto essa nova forma. E sim me apeguei a ela. Talvez por isso eu sinto tanta saudade daquela Lailá leve, que em outros tempos, acreditava nos encantos mínimos do mundo, no caráter luminoso das pessoas, na dignidade sagrada de um olhar.
Quero acreditar que essa parte de mim não se perdeu para sempre, mas também não sei se tenho forças para continuar insistindo no prazer da forma tão genuína que eu o sentia.
Talvez a compreensão da morte me devolva um dia essa parte que perdi por tão pouco ou talvez eu apenas me entregue a um novo nascimento e me encante justamente com o irreconhecível em mim.