23/05/2025
Esses dias tem sido diferentes, meu Senhor. Eu estive acostumado a tantas vezes te reconhecer entre as multidões que anunciavam suas maravilhas, seus prodígios, e alegre seguir o coro que Te exaltava e Te louvava.
Por vezes, em meio às perseguições, às tribulações, eu corria ao teu encontro, muitas vezes sem saber por onde ir, mas terminava diante de uma mesma cena consoladora: a pedra rolada, o túmulo vazio, o lençol dobrado ao canto, e um lembrete - Ele venceu, já não está mais aqui. E então tu me aparecias, mostrava-me o lado, sentava comigo, comia um pão ou um peixe, e eu recebia tua paz. A paz que o mundo não pode mudar. Outras tantas vezes, certo de que te encontraria, me pus diante de teu altar e lá tu estavas: vitorioso, resplandecente, escondido num pedaço de pão, o mundo inteiro aos teus pés e os anjos e Santos todos prostrados diante de tua Glória. A alegria enchia o peito, renovava as forças, dissipava a tristeza e as incertezas.
Mas esses dias… Ah, esses dias… Tem sido mesmo diferentes. Nas primeiras luzes da manhã eu estive apreensivo e corri para te encontrar, onde sempre soube que Tu estavas. Onde sempre me esperou, onde sempre falou comigo. Eu olhei novamente para Ti, mas Tua face era outra. Tu estavas numa Cruz, seus ossos podiam ser todos contados, os bofetões e cusparadas ainda ali presentes diante de mim compondo um semblante ao qual eu não tinha me habituado. E diante deste corpo ensanguentado pendente da Cruz ali estava eu de joelhos, inquieto, desconfortável, mas então eu entendi: porque naquela tarde, naquele tempo, há tanto tempo, haviam tão poucos ali contigo. Eu quis fugir, não queria aceitar que esse era o lugar que me tinha preparado desta vez, mas o teu olhar entregue e apaixonado, a respiração pesada diante da humanidade que - eu incluído - tanto te maltrata, te questiona, te ignora, esse teu olhar me paralisou e não me deixou sair.