25/10/2025
A civilização, ao ver essa cena, pede demissão. Ali está o retrato ácido de um país que deixou a dignidade escorrer pelo mesmo esgoto onde dançam jovens transformados em figurantes do próprio abandono. O funk escorre como trilha sonora de uma epifania às avessas: um culto à degradação onde o palco é lama e o glamour é leptospirose grátis.
Alguns dizem que é falta de oportunidade. Outros justificam como “cultura periférica” e varrem a vergonha para baixo do tapete que, por sinal, já está boiando junto com os dejetos. O que realmente se vê ali é o Estado em colapso, a família ausente, o senso de valor evaporado. Há quem aplauda dizendo que “é diversão”. Diversão?
O ser humano chega nesse ponto quando lhe tiram tudo: educação, perspectiva, pertencimento. Quando a única forma de existir é berrar mais alto, rebolar mais forte, empurrar o próprio corpo até o limite do ridículo só para sentir que ainda há vida pulsando no meio da podridão. Sem referências do alto, ele se rende ao subterrâneo. Se dizem que ele nasceu para ser lixo, então ele mergulha no lixão para provar que ainda respira.
A tragédia é que ninguém ali acordou sonhando em ser mascote do esgoto. Foram empurrados para esse palco. Rir, beber, se contorcer como animais pode ser uma forma desesperada de anestesiar a dor de jamais terem sido chamados a ser algo maior.
Enquanto isso, a sociedade observa de longe com nojo ou indiferença, como se aquele escurinho não fosse reflexo do próprio espelho nacional. Porque quando a juventude encontra no esgoto seu espaço de celebração, não é ela que fracassou. É o país inteiro.
Talvez a verdadeira pergunta seja: quem permitiu que o último lugar de identidade de uma geração fosse uma vala? A resposta fede mais que o cenário.
