15/10/2021
Texto muito sensível e urgente do psicanalista e psiquiatra José Alberto Zusman para o momento que estamos vivendo:
A síndrome de Pluft
Passados tanto tempo dentro de uma pandemia, que exige para sua contenção o isolamento social, cada vez mais observo como efeito colateral um fenômeno singular: gente com medo de gente. Pessoas que apesar de vacinadas permanecem restritas ou no conforto de seus apartamentos ou em casas de campo. Permitem-se a comunicação on-line. Para este grupo o encontro físico passou a ser temido. Não são todos, mas um grupo vulnerável que encontrou na pandemia um motivo para justificar seus medos pretéritos. Pessoas que desenvolveram ou intensificaram quadros de ansiedade quando perto de gente. Pessoas que antes tinham receio de serem julgadas ou mal vistas e agora, contaminadas. Gente que passam suas imagens apenas através da telas de seus celulares ou computadores. Fantasmas cibernéticos. A psiquiatria definiria esse quadro como agorafobia, eu prefiro denominá-lo como de síndrome de Pluft, o simpático fantasminha personagem de Maria Clara Machado, que tinha medo de gente. Essa síndrome de nome nacional não ocorre apenas por aqui, parece-me ser uma verdadeira pandemia emocional. Infelizmente muitos que sonhavam em sair e reencontrar pessoas, como faziam no passado, a medida que o mundo foi vacinando e reabrindo, não se sentiram à vontade para esse convívio. Curiosamente passaram a continuar isolados, agora por vontade própria, em suas confortáveis prisões que não mais prendem, agora protegem. Adaptador na solidão. Um beijo ou um abraço apertado foi substituído por um aceno de mão ou um encostar de punhos ou dedos. A intimidade para estes virou um mal a ser evitado. Talvez necessário, mas triste! O ser humano que sempre se nutriu da proximidade com outros seres humanos, agora a teme. Por mais que ainda necessário é preciso considerar que a distância dos outros ou nos adoece ou é já é fruto desse adoecimento. Precisamos reencontrar o que nos é essencial a alma e readicioná-lo a nossas vidas. Que beijos, abraços apertados voltem à moda, ainda sem excessos, para que a vida reencontre a sua graça de sentido. Por mais que ainda seja necessário o isolamento social como medida de proteção devemos começar a considerar a volta gradativa e cuidadosa ao convívio montando, como peças delicadas na montagem deste complexo cenário de reaproximação cautelosa entre os mais próximos, mais íntimos e, certamente, vacinados. Algum lugar possível entre os excessos da aglomeração e a solidão. Como em quase tudo na vida, precisamos de bom senso. Buscar o meio termo que sempre estará a nosso favor.