17/05/2025
“Quando o afeto vira controle disfarçado”
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Tem coisa que a gente precisa falar com mais calma, mas sem passar pano.
Não é sobre julgar quem compra um bebê reborn. É sobre entender o que esse tipo de comportamento pode estar querendo dizer — por trás do “fofo” e do “realista”, tem muita dor sendo encoberta.
Já ouvi relatos de adultos que não apenas compram esses bonecos hiper realistas, mas os tratam como filhos: dão nome, registram rotina, brigam na Justiça pela guarda. Estamos falando de bonecos com cheiro de recém-nascido, peso parecido, textura da pele, veias, cabelos implantados fio a fio — alguns até respiram e simulam batimentos cardíacos.
E eu te pergunto: isso é afeto… ou é o medo do vínculo real?
Talvez a ideia de ter alguém que não responde, não cresce, não questiona, pareça mais confortável do que lidar com a imprevisibilidade das relações humanas. A gente alimenta o boneco porque ele não reclama. Cuida porque ele não chora. Ama porque ele não exige nada de volta.
Mas isso não é amor. Isso é fuga.
Amor de verdade envolve troca. Frustração. Crescimento. Presença. Reação. E, principalmente, a possibilidade de não controlar tudo o tempo todo.
Quando alguém prefere investir tempo, dinheiro e afeto num boneco que não demanda nada, talvez esteja tentando lidar com feridas profundas: lutos mal elaborados, traumas, medos, perdas. Mas nenhum silicone vai dar conta da ausência de uma presença real.
Enquanto isso, mais de 5 mil crianças e adolescentes estão prontos para serem adotados no Brasil. Só que muitos são rejeitados por serem “grandes demais”, por terem histórias, por já terem chorado alto demais pra caber no ideal de filho perfeito.
No fundo, parece que muita gente quer um “filho de brinquedo”: que se encaixe, que obedeça, que não fale de suas dores. E aí mimam bonecos como se fossem filhos… e rejeitam filhos justamente porque não são bonecos.
Não é sobre condenar. É sobre provocar reflexão.
O que você está tentando controlar, enquanto finge que está cuidando?
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