13/08/2021
A adolescência acontece em um mundo transitório, com variados modelos sociolaborais de referência para guiar a construção da vida. Tanto aqueles mais tradicionalmente constituídos quanto os mais contemporâneos.
Até pouco tempo, ter um trabalho se resumia em basicamente em ter uma boa formação, conseguir um bom emprego e mantê-lo até o final da vida em uma situação que possibilitasse certa previsão do futuro. Na contemporaneidade e, com as novas formações trabalhistas, esses aspectos deixaram de ser relevantes, já não se tem mais clareza se a formação é suficiente para se conseguir um trabalho, muitas vezes é necessário mudar de emprego, de cidade ou até mesmo de profissão para se sustentar e raramente se tem segurança e estabilidade definitivas como nos modelos anteriores.
As mudanças não aconteceram apenas no âmbito do trabalho, mudaram também as referências de família, gênero, sexualidade e formação. O modelo de vida adulta passou a ser olhado de uma maneira mais flexibilizada o que de um lado pode trazer uma sensação de liberdade nas escolhas, por outro pode ser motivo gerador de angústia e sofrimento, pois traz desafios enormes, tanto para os adolescentes quanto para os adultos.
Sem referências de vida adulta mais segura, onde possa se basear e construir sua própria vida, o adolescente pode entrar em um sofrimento psíquico, gerado pela insegurança de não se ter onde buscar um modelo identificatório satisfatório.
Talvez, essa seja uma das razões pelas quais está se atrasando tanto o reconhecimento de si mesmo com um adulto e por isso temos o fenômeno do prolongamento da adolescência. A falta de compromisso com suas realizações é uma forma de se distanciar da posição social cronologicamente determinada e marcada pela conquista de um emprego e constituição da própria família, essas marcas se perderam e com essa perda, não se tem mais o marco da consolidação da passagem da adolescência para a vida adulta.