26/05/2025
Resgatar memorias é transformar valores
José Paulo Ferrari*
Falar sobre fatos que retratam o passado, geralmente, resgatam lembranças de um tempo que há muito se foi, mas, que sempre está presente em nossas memórias, de alguma forma. A princípio, é como ver fotos antigas que retratam recordações de momentos que permanecem indelével dentro de nós, pois foram vividos, de alguma maneira, intensamente e, assim, a nossa própria fala tem o poder de nos transportar para aqueles instantes que se perderam em um passado longínquo e - para os mais sensíveis - fazer até mesmo reviver intensamente fatos, momentos e acontecimentos que, certamente, marcaram nosso ser interior. Falar sobre o passado é como reunir elos de pensamentos e emoções, geralmente, ainda não compreendidas no momento, que podem se tornar claros ou ressignificados, de tal maneira a nos ajudar a enfrentar as condições que se apresentam no agora e podem estar relacionadas a essas memórias.
No sentido psicológico, cenas ou imagens, momentos ou fatos que nos marcaram afetivamente em algum momento de nossas vidas, seja de forma positiva ou negativa, ou tanto boas como más emoções, permanecem conosco ao longo de nossas existências e se constituem de certa forma, também, parte de nossas riquezas interiores, já que podem ser consideradas verdadeiras preciosidades que constituem o universo interior de cada um. O que fazemos com elas, como a utilizamos, é que – certamente – faz a diferença, uma vez que o valor ou importância que a essas memórias damos ou sentimos é que pode ou não nos fazer mais felizes, gratos ou, então, revoltados e, certamente, mais amargos e melancólicos, quando não verdadeiramente adoecidos.
Muitas pessoas, sobretudo aquelas que viveram de forma intensa fatos ou histórias que de alguma forma se registraram efetivamente em suas memórias, são capazes de revivê-las com abundância, de tal forma a ter sensações ou percepções muito significativas, a ponto de se lembrarem de perfumes, sabores e texturas, e, principalmente, das emoções que foram sentidas naquele momento, entre outras coisas, de forma tão intensa, que é como se pudessem voltar efetivamente ao passado. Daí a expressão “viagem no tempo”!...
É importante – creio - sempre ter em mente que esta jornada pessoal deve ser acolhida, compreendida, por quem a empreende e pode, em certas ocasiões, ser dividida com outras pessoas, principalmente com um profissional da Saúde Mental, para que possa ser elaborada de tal forma a dar a cada lembrança resgatada o valor e a importância que ela, realmente, mereça. Pois, afinal, assim como em nossas viagens devemos transportar somente o essencial, o que realmente importa, em nossas memórias, preservando somente as riquezas que nos fazem melhores, mais saudáveis, mais dispostos à Vida, mais desprendidos e, portanto, mais felizes.
É importante, também, ter em mente que memórias não se apagam, através de conversas ou recordações, mas que se ressignificam a ponto de nos permitir compreender seus verdadeiros valores, bem como empregá-los a nosso favor.
*José Paulo Ferrari é psicólogo clínico, com especialidade
em Psicooncologia, pelo A.C. Camargo, e em Cuidados
Integrativos e Facilitador de Meditação em Saúde,
pela UNIFESP.