15/01/2025
Na teoria lacaniana, a verdade não é um conceito estático, mas algo que emerge no campo do desejo e da linguagem. Ao dizer que só alcançamos a verdade que podemos suportar, Lacan sugere que há um limite subjetivo: a verdade confronta o sujeito com sua falta, com o vazio estrutural que o define. Assim, aquilo que se revela como verdade é sempre parcial, fragmentado e condicionado pela capacidade de enfrentar o sofrimento psíquico que tal revelação pode provocar.
Lacan distingue o Real da realidade. Enquanto a realidade é o espaço simbólico mediado pela linguagem, o Real é o inominável, o que escapa à simbolização e confronta o sujeito com sua própria castração. A verdade, quando toca o Real, é quase insuportável, pois desorganiza as fantasias que sustentam a imagem que o sujeito tem de si mesmo e do mundo. É por isso que o alcance da verdade está vinculado ao grau de resistência ou resiliência que cada indivíduo possui para enfrentar essa ruptura.
O inconsciente é estruturado como uma linguagem, mas sua lógica opera por deslocamentos, recalques e formações de compromisso. O sujeito, ao se deparar com a verdade, ativa mecanismos de defesa que podem limitar sua capacidade de acesso a essa verdade. O recalque, por exemplo, é uma forma de proteger o psiquismo de conteúdos dolorosos ou ameaçadores. Assim, a verdade acessada nunca é plena, mas apenas aquela que o sujeito pode integrar sem desmoronar.
"Cada um alcança a verdade que é capaz de suportar" revela que a verdade não é um destino fixo, mas um processo dinâmico e profundamente subjetivo. Ela é, antes de tudo, um encontro com os limites do saber e do ser, onde o sofrimento e o desejo se entrelaçam. Mais do que um estado de conhecimento, a verdade na psicanálise é um movimento que transforma o sujeito, na medida em que ele aceita se abrir ao que o excede e ao que o constitui.