25/05/2025
Vício em apostas online e o aumento dos divórcios: quando o jogo destrói lares e identidades
O número de divórcios motivados pelo vício em apostas tem crescido de forma preocupante no Brasil. Reportagem do g1 publicada em 20 de maio de 2024 relata casos de famílias desfeitas após um dos cônjuges se envolver compulsivamente com plataformas como o “jogo do tigrinho” e casas de apostas online (bets). Em um dos relatos, uma mulher conta que o marido chegou a vender a casa onde moravam para continuar apostando. “Não era mais o mesmo homem, ele vivia no celular, mentia, sumia. Perdi o marido, a paz e até o nosso lar”, disse.
Do ponto de vista psicológico, esse comportamento pode ser compreendido como uma dependência comportamental, uma forma de compulsão que, apesar de não envolver substâncias químicas, atua de maneira semelhante ao vício em dr**as. A pessoa desenvolve uma relação de dependência com a excitação causada pela aposta, vivendo em um ciclo de risco, perda e repetição.
Esse tipo de compulsão está classif**ado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como transtorno do jogo, caracterizado pela incapacidade persistente de controlar o impulso de apostar, mesmo diante de prejuízos signif**ativos.
Além dos danos financeiros, o vício em jogos online corrói as estruturas emocionais e relacionais. O indivíduo passa a mentir, esconder comportamentos, negligenciar responsabilidades e compromissos afetivos. A família, por sua vez, sofre com a quebra da confiança, a insegurança e a frustração de ver alguém que ama sendo consumido por algo que parece incontrolável.
É importante destacar que, embora existam fatores sociais e econômicos que favoreçam a disseminação desse tipo de vício — como o fácil acesso às plataformas e a promessa de enriquecimento rápido —, há também questões emocionais mais profundas. Muitas vezes, a pessoa aposta para anestesiar sentimentos como ansiedade, frustração, baixa autoestima ou sensação de vazio.
A psicoterapia tem papel essencial no tratamento da dependência. Ela proporciona um espaço seguro para que o sujeito possa refletir sobre sua relação com o jogo, elaborar as causas emocionais do comportamento compulsivo e construir estratégias para retomar o controle da própria vida. Também é importante oferecer apoio psicológico aos familiares, que frequentemente carregam sentimentos de culpa, raiva e exaustão.
O aumento desses casos nos alerta para a urgência de políticas públicas que regulamentem e fiscalizem esse tipo de atividade, além da necessidade de mais campanhas de conscientização sobre os riscos do jogo patológico. Afinal, por trás da promessa de ganhos fáceis, muitas vezes o que se encontra é a perda daquilo que realmente importa: os vínculos, a saúde mental e o próprio sentido de viver.