29/04/2019
Robert Frost (1874-1963) foi um poeta norte-americano vencedor do Prêmio Pulitzer de poesia. Nesse poema clássico dele "A trilha que não tomei" (1920) ou em título original: "The Road not taken" podemos ver algumas questões existenciais relacionadas às escolhas que fazemos, ao tempo, à vida e à morte. Já em seus primeiros versos ele fala sobre olhar para a vida após atingir uma certa maturidade na vida, sobre toda escolha ser também uma renúncia e, por isso, a dificuldade que temos em escolher. O tipo de vegetação descrita no poema original, característica do estado de Michigan (onde o autor morou praticamente a vida toda), que amarela no outono representa a passagem da vida, a maturidade.
Mais para frente no poema ele fala sobre a trilha que já está pisada, que embora ele já conheça o que se encontra nesse caminho, ele escolheu a outra que desejava ser caminhada. Vejo o caminho da grama pisada como a impropriedade. Questões da vida que não escolhemos por serem o que nós realmente queremos, mas por ser o que "dizem" que é para nós fazermos. Coisas que não fazem sentido para a gente, mas que fazemos mesmo assim.
Por isso em certos momentos da vida ficamos sem chão, sem sentido. Por termos caminhado na impropriedade, no que não é próprio da gente, no que não faz sentido, nós acabamos nos vendo perdidos, sem nos reconhecermos, sem entender como fomos parar onde estamos.
No livro "Do desabrigo à confiança", Sapienza descreve a impropriedade como estarmos andando por caminho quando começa a chover. Avistamos uma cabana e corremos até ela para nos abrigarmos. Entramos e fechamos a porta, só aí percebemos que a porta não abre por dentro. E o que era para ser um abrigo acaba se tornando uma prisão. Na terapia procuramos trabalhar esse deslocamento da impropriedade para a propriedade. Buscar o que faz sentido para cada um, a percepção de cada um sobre diferentes aspectos da vida, trabalhar escolhas, angústias, para que a pessoa se compreenda, se aproprie de si mesma.