12/02/2020
QUAL O RESULTADO DA GESTALT-TERAPIA?
A princípio, pode parecer contraditório falar em resultados em gestalt-terapia. Afinal, trata-se de uma abordagem que se pretende antidogmática, que constantemente tenta se desviar de ideais normativos – mesmo ideais do que seria uma saúde adequada ou um bom estilo de vida.
Se não há maneira correta de viver, como avaliar se um processo terapêutico tem bons resultados? Como saber se foi bem feito? Onde entra o rigor clínico, que diferencia uma psicoterapia gestáltica de outras formas de terapia e também de qualquer outro processo de cuidado e transformação?
Ora, os criadores da Gestalt-Terapia nos dão uma resposta no livro que funda a abordagem. Lá, eles sugerem que a experiência aqui-e-agora é rica o suficiente em detalhes, complexidade e profundidade – histórica e afetiva – para nos dar, a cada nova sessão, um critério intrínseco a ela mesma.
Isso signif**a que a cada novo acontecimento, o gestalt-terapeuta se orientará não pela normatividade social ou mesmo pelas teorias psicológicas que sistematizam o que é uma mente saudável, mas sim pela qualidade do contato presente.
No desenrolar de cada sessão, o contato que ocorre entre o terapeuta e seu cliente se revela espontaneamente como forte, fraco, brilhante, nulo, obscuro, agressivo, radiante, pífio, superficial, cindido, belo, profundo, horroroso, explosivo, enigmático…
A atitude gestáltica é a fé de que ao imergimos com disponibilidade e responsabilidade nesses detalhes da experiência presente, ela se intensif**a, se modif**a, se dobra e desdobra, até eventualmente se tornar algo diferente, algo totalmente outro.
Assim, conforme as sessões passam, percebemos no corpo, na vivacidade e nas atitudes de nossos clientes que eles se mostram mais fortes, sensíveis, focados, implicados, empoderados, responsáveis, livres…
“mas Matheus, isso é uma promessa? Esses são os resultados da Gestalt-Terapia?”
Não e sim. Sim e não.
Na realidade, todas essas formas de crescimento são “apenas” consequências da disponibilidade e da entrega do terapeuta e do cliente.
Na medida que o gestalt-terapeuta se deixa arrebatar pelas dimensões da experiência presente, ele convida seu cliente a fazer a mesma coisa – se afinar com sua força, seus hábitos, sua sensibilidade, suas inibições, seus desejos, sua afetividade, sua agressividade, suas identidades, sua ternura, sua capacidade de construir vínculo, sua capacidade de f**ar sozinho, e assim por diante.
Assim, a cada novo encontro, cliente e terapeuta descobrem novas formas, novos estilos de vida, e mesmo novas versões deles mesmos. Se transformam ao mesmo tempo que se aceitam.
Justamente por estar implicado emocionalmente nesse campo, o terapeuta também pode tomar como critério do resultado o seu próprio afeto e sua própria percepção na experiência presente.
Vez ou outra há momentos em que ele se flagra admirando a beleza de uma transformação, em que se descobre tocado ali onde menos esperava.
É este critério – certamente intuitivo, ético e estético – o mais importante para avaliar o resultado de um processo na gestalt-terapia.
Psicólogo Matheus Ribeiro