06/05/2020
Abaixo publico a primeira parte do livro ESTIGMAS. Excelente leitura a todos!
E S T I G M A S
Este romance é baseado em fatos reais. Porém, os nomes e apelidos dos personagens, da cidade do enredo principal, das empresas e órgãos de segurança pública são produtos da imaginação do autor e, portanto, fictícios. Qualquer homônimo é mera coincidência.
Esta é uma publicação independente. Todos os direitos autorais reservados a Paulo Roberto Pinto. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e sistema, sem prévio consentimento por escrito.
Os fatos que marcam sua vida, bons ou maus, são a sua saga.
As ideias e escolhas que guiam seus passos, certas ou erradas,
definem o seu caráter e moldam a sua personalidade. A forma
como você é chamado, seja pelo nome, sobrenome ou um apelido
qualquer, é o domicílio da sua identidade. E é uma soberba
delituosa, um grupo de cidadãos ficticiamente honestos apresentarem-se
de supostos biógrafos de um indivíduo para alterar sua história,
caráter e identidade, objetivando manipular a opinião da comunidade
contra ele.
À minha neta Duda, à Angel e a todas as pessoas que sempre acreditaram em mim.
P R E F Á C I O
Estigmas sociais são características ou crenças de caráter pessoal que vão contra as normas culturais estabelecidas e causam uma severa desaprovação da sociedade. Estigmas, portanto, são atributos profundamente depreciativos que frequentemente marginalizam os indivíduos estigmatizados. Na maioria dos casos, os estigmas sociais originam-se naturalmente do caráter ou de circunstâncias fortuitas da vida do indivíduo estigmatizado e, desta forma, são a ele inerentes.
O estigma pode estar relacionado a três tipos de condição. Deformações físicas, abrangendo toda a ordem de deficiências. Desvios comportamentais como distúrbios mentais, doenças, vícios, homossexualidade, desonestidade, ou condições como desemprego, reclusão prisional ou até mesmo a pobreza. E tribais associados à etnia, raça, nação ou religião.
Com plena ciência disto, um grupo organizado de cidadãos supostamente honrados, com a certeza da impunidade e gozando de uma credibilidade baseada no medo que inspiram dentro de uma comunidade, agindo na mais completa má-fé, apresentam-se de pseudotestemunhas da vida alheia para espalhar mentiras e boatos que criam características emblematicamente negativas e deterioram a identidade social de seus críticos e desafetos. São criadores de estigmas.
Este processo de criação de estigmas torna-se então instrumento de manipulação de opinião que impõe julgamentos morais de cunho fascista e sem direito a defesa. Causando irreparáveis prejuízos ao indivíduo artificialmente estigmatizado.
(Texto do autor baseado no livro Estigmas – Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, 1963 – de Erving Goffman, cientista social, antropólogo e escritor canadense. Considerado o sociólogo norte-americano mais influente do século XX, 1922-1982. E no artigo As Fofocas e Boatos de Jackson César Buonocore, sociólogo, psicanalista e escritor. Publicado na Edição 11567 do Jornal Vale dos Sinos).
“O homem é senhor do que cala e escravo do que fala. Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”. Sigmund FREUD, médico neurologista austríaco considerado o criador da psicanálise (1856-1939).
1993
A porta da espaçosa e bem decorada sala da diretora de marketing da Catarina Footwear abriu e apareceu a cabeça de Lourival, o gerente de vendas.
– Posso falar contigo um minuto – disse ele.
– Senta aí. Qual é o assunto? – perguntou Raquel.
– O professor de inglês de vocês – disse Lourival com voz macia sentando-se em uma cadeira em frente à mesa da diretora.
– Qual é o problema com ele?
Raquel era alta, delgada e de pele clara. O cabelo loiro e liso chegava à altura dos ombros. O rosto ostentava uma boca bem delineada e olhos azuis. Bela ítalo-descendente em torno de quarenta anos. Mulher elegante, simpática e de sorriso fácil. Usava uma camisa de seda preta e uma calça bege clara. O fino sapato marrom de salto alto, tipo exportação, era produto da própria empresa.
– Ele é o problema! Mente que sabe tudo de inglês, mas o conhecimento dele é muito pouco. É um baita picareta! Foi por isso que abandonei as aulas – disse Lourival tentando ser convincente.
– Mas ele trabalhou um bom tempo no Talkway e depois num outro curso em Novo Hamburgo! – disse Raquel surpresa.
– E aprontou um monte de problemas! Conheço ele há muito tempo, é um péssimo elemento. Foi demitido do Talkway por roubo – disse o gerente.
– Da onde tu tirou isso?
– Do cara que conseguiu o emprego pra ele no Talkway e conhece ele há muitos anos. São muito amigos. Vocês não vão aprender nada com ele e ainda podem se incomodar.
Lourival era um sujeito atarracado de estatura mediana, por volta de quarenta e quatro anos. De pele clara, cabelo castanho liso curto e olhos castanhos. Apesar da firmeza com que falava, os olhos eram dissimulados. Nunca tirava a gravata e o blazer azul marinho.
– Quem é esse amigo dele? – perguntou a diretora.
– O Bruder. Até viajaram juntos na década de setenta – disse Lourival.
– E qual é o interesse dele em queimar o amigo? – perguntou Raquel.
– Conheço o Bruder e por acaso nos encontramos em um restaurante em Novo Hamburgo alguns dias atrás. Ele me contou isso tudo confidencialmente e na melhor das intenções quando eu disse que o Magrão tava prestando serviço aqui na empresa – disse o gerente.
– Mas o Magrão chegou aqui bem recomendado e o Bruno conheceu ele trabalhando no Talkway – argumentou a diretora.
– Isso não quer dizer nada! Eu tenho o telefone do Bruder, se tu quiser posso dar um jeito de trazer ele aqui pra vocês ouvirem o que ele tem a dizer sobre o Magrão – insistiu Lourival.
– Esse tipo de coisa não me agrada, mas trás ele aí pra gente conferir essa história.
Por volta de duas e trinta da tarde do dia seguinte, José Carlos Bruder desceu de um reluzente e impecavelmente limpo Monza cinza, se desfez do cigarro e entrou no prédio da Catarina.
– O Lourival já vai receber o senhor – disse a recepcionista após consulta pelo interfone.
Sentado no sofá folheando uma revista sobre calçados, com os olhos Bruder deu uma volta pela luxuosa recepção da empresa. Era uma peça ampla e bem iluminada com grandes janelas de vidro protegidas por pesadas cortinas em tom bege e paredes gelo. Tinha um enorme sofá de canto e três poltronas grandes de couro marrom sobre um espesso tapete toronto bege. A mesinha de centro e a mesa da recepcionista eram em tom castanho. Havia também grandes vasos com flores decorativas e, ao fundo, via-se uma área de luz com um jardim de inverno protegido por portas de correr de vidro.
Cinco minutos depois apareceu o gerente de vendas. Abraçaram-se como velhos amigos.
– E daí Bruder! Tudo bom? – cumprimentou Lourival.
– Tudo. E tu como vai?
A estatura média de Bruder salientava bem o peso excessivo e a protuberância abdominal de seus cinquenta anos. Tinha pele clara e cabelo grisalho liso com grandes entradas. O rosto redondo mostrava pequenos olhos castanhos, nariz caucasiano e boca de lábios finos. Dentro de uma camisa e calça jeans, e vestindo um mocassim marrom escuro, dava ares de boa estabilidade financeira.
– Tudo bem. Vamos até a sala da Raquel – disse Lourival.
A cada passo dado sobre o vermelho rubi do trilho do corredor, Bruder mais admirava o luxo da empresa.
– Entra! – disse a diretora ao ouvir a batida na porta.
– Como te falei ontem, quero te apresentar o Bruder. Esse sim conhece o Magrão melhor do que ninguém! – disse Lourival sorrindo.
– Muito prazer – disse Raquel.
– O prazer é meu – disse Bruder apertando a mão dela.
– Sentem-se, por favor. Vou chamar o resto da turma pra eles também participarem dessa conversa – disse a dona da sala pegando o interfone.
Chegaram Bruno, diretor de produção e Aurélio, designer de calçados. Após as apresentações de praxe, feitas por Lourival atuando como mestre de cerimônias, a reunião com os clientes de Magrão estava organizada.
– Agora conta pra eles quem é o professor de inglês deles – disse o gerente ao visitante.
– Primeiro quero deixar bem claro que o que vou dizer aqui é um segredo só nosso. Em hipótese alguma pode sair daqui. Só estou aqui porque o Lourival me pediu e pra vocês não f**arem perdendo tempo e dinheiro – disse Bruder.
– Nós entendemos – disse Raquel.
– Conheço o Magrão desde que era adolescente. Viajamos juntos na década de setenta e até cinco anos atrás lecionávamos no mesmo curso. Ele vai à minha casa quase todos os domingos. Somos grandes amigos – disse Bruder fazendo um rápido histórico como introdução ao seu depoimento.
– Diz pra eles porque ele foi demitido do Talkway – disse Lourival.
– É chato ter que dizer isso, mas ele foi demitido por roubo. Eles não denunciaram por pena dele e até hoje essa história tá meio nebulosa. Pouquíssimas pessoas, além da direção da escola, f**aram sabendo. Nem eu sei direito como foi. Naturalmente ninguém toca nesse assunto – disse Bruder.
– Vocês estão vendo o cara que tá aqui dentro da empresa! – disse Lourival.
– De qualquer forma ele tava pra ser demitido desde o início. O inglês dele é muito pouco pra lecionar e quando falta conhecimento ele chuta sem o menor constrangimento – continuou Bruder.
– No Talkway ouvi dizer que ele morou nos Estados Unidos – disse Bruno.
– Tava indo morar lá! Ele se meteu numa aventura com uma americana pelas montanhas ao redor de um lago na Guatemala, perdeu o passaporte e terminou f**ando por lá mesmo. Daí conviveu com uma turma de americanos e foi assim que aprendeu a falar um pouco de inglês. Depois foi preso e deportado de volta ao Brasil. Agora, lecionando ele aprendeu um pouco mais.
– Como é que o pessoal do Talkway admitiu ele? – perguntou Raquel.
– Foi a meu pedido. Mas ele só dava aula de livro um. Não consegue nem se expressar direito em inglês – respondeu Bruder.
– É bastante estranho que um curso do renome do Talkway faça uma coisa dessas – disse Aurélio.
– Pois é, mas fez – garantiu Bruder.
– Quanto tempo ele trabalhou lá? – perguntou Raquel.
– Três anos e meio – respondeu o depoente.
– Bastante tempo – ponderou a diretora.
– Ele engana bem! E já vi ele falar mal até da mulher, da família, dos amigos, dos patrões, dos clientes. Vizinho pra ele só serve pra falar mal uns dos outros. Ninguém escapa da língua dele – disse o grande amigo abordando outro tópico do suposto caráter de Magrão.
Bruder falava demonstrando uma grande fluência verbal e batia no peito com o polegar direito para dar mais ênfase a suas palavras.
– Pra ele a inflação é resultado do aumento desenfreado dos preços causado pela roubalheira dos empresários. Ele acha até certo roubar de empresário porque pra ele é tudo ladrão. Eu vi ele dizer isso! – continuou Bruder.
– Mas todos os empresários? – perguntou Raquel cuja família era proprietária da empresa.
– Ele generaliza. Se alguém faz algo errado, ele julga e condena a classe toda. Já vi ele fazer isso muitas vezes – disse Bruder.
O professor fez uma pausa técnica e analisou o rosto de seus interlocutores para ver se estava sendo convincente.
– O que ele fala dos clientes? – perguntou Bruno.
– Pra ele pagamento tem que ser à vista e em dinheiro. Se um cliente atrasa o pagamento dele um dia sequer, ele já chama de caloteiro. Mas ele deve pra todo mundo – disse Bruder.
– Nós nunca atrasamos o pagamento dele – disse Aurélio.
– A última coisa que importa pra ele é o aprendizado de vocês e a primeira é o dinheiro que entra no bolso dele. Sempre ouvi ele dizer que o que interessa pra ele na vida é se dar bem e f**ar muito rico – disse a suposta testemunha.
– É ambicioso – disse Aurélio.
– Mais do que isso! É ávido por dinheiro, principalmente dinheiro fácil. Vive se metendo em confusão. Ele tem um amigo aposentado da polícia que é muito influente e que volta e meia tira ele da cadeia. Há coisa de uns dois anos atrás, pegaram ele com um monte de dólares sem procedência, quem livrou ele foi esse tal amigo influente. Eu vi ele dizer! – disse o professor.
Os três funcionários da Catarina estavam cada vez mais pasmos com o que Bruder afirmava sobre o caráter do seu professor de inglês.
– O amigo influente mandou ele parar de usar o apelido de Magrão e mudar de vida. Ele deve muito pra esse cara e se comprometeu a deixar de usar o apelido. Essa última vez que o cara tirou ele da cadeia, a coisa foi tão feia que ele até já me proibiu de chamar ele pelo apelido. Ele se caga de medo da polícia! – completou Bruder.
– Estou surpreso! Conheci o Magrão no Talkway e nunca ouvi dizer nada disso. Ao contrário, ele sempre foi muito benquisto e considerado lá. E todo mundo sempre chamou ele de Magrão sem problema algum – disse Bruno.
– Lógico que ele não vai dizer isso no local de trabalho. Mas comigo ele se abre. Ninguém conhece ele como eu! – disse o visitante garantindo ser o confidente do professor deles.
– Agora vocês estão conhecendo o verdadeiro Magrão! – disse Lourival.
– Claro que no caso de vocês o que interessa é o lado profissional dele. E nisso eu posso garantir que ele não tem nada pra ensinar a vocês. Até ele precisa de um curso pra melhorar o inglês – disse Bruder.
– Tá bom. Obrigado pelas informações. Agora nós vamos pensar o que vamos fazer – disse Raquel.
– Vocês não devem nem pensar! Paguem o que ainda tenham que pagar pra ele não chamar vocês de caloteiros e mandem ele embora daqui – disse Bruder.
– Foi isso que eu disse pra eles fazerem! – disse Lourival.
– Mas, por favor, não comentem nada disso com ninguém – disse Bruder na despedida, mais uma vez pedindo sigilo absoluto.
– Nem te preocupa com isso – disse Aurélio.
Depois de levar Bruder até a saída, Lourival voltou à sala da diretora e ainda ficou algum tempo reforçando as palavras dele. Queria ter certeza que seriam decisivas para que Magrão perdesse os clientes.
Mas depois da saída do gerente, os três clientes de Magrão começaram a ponderar sobre tudo aquilo. Em nenhum momento, ao longo dos onze meses que vinha prestando serviço na empresa, seu professor comportara-se da forma descrita pelo suposto amigo. Era muito difícil acreditar naquilo.
– Não sei o que pensar – disse Raquel.
– Eu conheço a Carla, dona do Talkway. Vamos ligar pra ela e descobrir se esse cara tá dizendo a verdade – disse Bruno concedendo a Magrão o benefício da dúvida.
– Concordo! Não podemos queimar o Magrão sem nem ao menos confirmar essa história toda – disse o designer.
– Ela ficou com a escola de Novo Hamburgo. Vou ligar pra lá agora mesmo – disse Bruno.
Ligaram o gravador da secretária eletrônica e deixaram em viva voz para que todos pudessem acompanhar a conversa.
– Oi Bruno – disse Carla – Em que posso te ajudar?
– Eu gostaria que tu me desse algumas informações sobre o Magrão, aquele rapaz que trabalhou aí com vocês. Por exemplo, por que ele saiu daí? – perguntou Bruno.
– A escola de São Tomé foi vendida pra um pessoal que já possuía nove franquias Talkway. Eles queriam comprar a escola sem os funcionários, pra poderem trazer pessoal da confiança deles. Todos os funcionários foram demitidos por esse motivo – disse Carla.
– Houve algum problema com ele aí? – insistiu Bruno.
– Nunca houve problema algum. O Magrão é uma grande pessoa e um excelente profissional. Muito bom funcionário, responsável e bastante trabalhador. Eu conservei a escola de Novo Hamburgo e ele sabe que pode retomar o trabalho aqui a hora que quiser. Gostamos muito dele – reforçou Carla.
– Como vocês avaliam o inglês dele?
– Ótimo! Quando chegou aqui em 85, ele se comunicava bem em inglês, mas cometia alguns erros. No início só dava níveis básicos. Mas estudou bastante e desenvolveu rápido. Nós resolvemos investir e pagamos dois cursos pra ele na sede do franqueador no Rio de Janeiro. Quando ele saiu daqui em oitenta e oito, já fazia até tradução. Agora ele é mais tradutor-intérprete do que professor.
– Onde ele aprendeu a falar inglês? – perguntou Bruno.
– Isso não sei te dizer. Ele é amigo da mulher de um antigo gerente de vendas americano que nós tínhamos, o Bryan Rivers, foi por intermédio deles que ele chegou aqui. Nas empresas onde fechava contrato, o Bryan dizia que todos os nossos professores tinham experiência internacional. É provável que ele saiba onde o Magrão aprendeu – disse a dona do Talkway.
– Mas não foi o Bruder que conseguiu o emprego pra ele aí? – perguntou Bruno.
– Ao contrário! Foi ele quem trouxe o Bruder pra cá, pouco mais de um mês depois de ter começado a trabalhar aqui – disse Carla.
– Estou perguntando porque o Bruder chegou aqui fazendo uma série de afirmações bastante desabonadores a respeito dele. Disse inclusive que ele tinha sido demitido do Talkway por roubo. Como ele tá prestando serviço aqui na empresa, tínhamos que tirar isso a limpo – disse Bruno.
A dona do Talkway até já se acostumara às consultas sobre a idoneidade de Magrão. Haviam iniciado no final de oitenta e oito, dois meses após a demissão dele do curso, e não pararam mais.
– Você não é o primeiro a pedir referências dele por causa disso, já faz cinco anos que eu recebo esse tipo de pedido. É uma clara campanha de difamação contra ele. Querem queimar ele no mercado. Até parece coisa de máfia. É tudo feito com base na palavra do Bruder e de outros que se apresentam como grandes amigos dele. Mas posso te garantir que é tudo mentira – disse Carla.
– Bem que nós achamos que não era verdade mesmo. Melhor assim, porque aqui também gostamos dele – disse Bruno.
– A mentira começa quando ele afirma ser grande amigo do Magrão. Com um amigo desses, ninguém precisa de inimigo, tu não acha?
– Pois é!
– Ele não disse também que o Magrão tem que deixar de usar esse apelido por causa de um amigo influente que tira ele da cadeia? – perguntou Carla.
– Disse! – respondeu Bruno.
– Não conheço o tal amigo influente, mas ouvi dizer que quando ele fala cria até antecedentes criminais para o Magrão. Aqui nós usávamos esse apelido até nas chamadas de aula e pra nós ele continua sendo o mesmo Magrão de sempre. Não mudou nada.
Há quase dois anos ela havia descoberto o nome do sujeito que afirmava tirar Magrão da cadeia. Mas preferia o codinome usado por Bruder para referir-se a ele.
– Tá bom. Obrigado – disse Bruno.
– Não por isso. Quando precisar, estamos às ordens.
A conversa esclarecedora com Carla, ouvida por todos, desmentiu completamente as afirmações de Bruder. E, além disto, chamou atenção para a faceta hipócrita do caráter do pseudoamigo.
– Por favor, vocês fiquem aqui que agora nós vamos chamar o Lourival pra ele ouvir a gravação da conversa com a Carla. Eu quero que vocês também ouçam o que ele vai dizer sobre isso – disse Raquel pegando o interfone.
O sorriso que Lourival tinha ao voltar à sala da diretora desapareceu bem antes dele ouvir o término da gravação.
– É isso! A Carla desmentiu tudo que o Bruder disse – concluiu Raquel.
Aconteceu o que não podia ter acontecido, pensou Lourival. Ele sentiu o revés do desmentido, mas absorveu e não demonstrou. Ao contrário, rapidamente partiu para um novo ataque.
– O Bruder me preveniu que poderia acontecer isso. Ele não quis dizer aqui porque envolve a Carla. Mas o interesse dela no Magrão é porque eles tiveram um caso e talvez até ainda tenham. Por isso ela defende tanto ele – disse o gerente de vendas.
– E como é que o Bruder sabe disso? – perguntou Aurélio.
– Ora, o Magrão conta tudo pra ele! – disse Lourival.
– Ou seja, esse caso amoroso entre os dois também é garantido pelo testemunho do Bruder! – disse Bruno com sarcasmo.
Vendo a situação escapar do seu controle, Lourival achou que era hora de apelar para o amigo influente.
– O Bruder não conhece, mas eu conheço o Liar, o cara que tira o Magrão da cadeia. Posso trazer ele aqui também pra confirmar tudo pra vocês! – disse Lourival irritado.
O gerente de vendas havia dito que fazia aquilo para que eles não perdessem tempo nem dinheiro com um professor incompetente. Mas mesmo depois do categórico desmentido da dona do Talkway, ele demonstrava um grande interesse em continuar trazendo testemunhas que desabonassem Magrão junto aos clientes.
– Não sei se depois do que a Carla disse faz qualquer sentido ouvirmos esse tal Liar – disse Bruno.
– Pra mim a palavra da Carla é suficiente pra garantir a idoneidade do Magrão – disse Aurélio.
– Mas ela tá mentindo pra ajudar ele! Eles têm um caso! Essa é a verdade! – disse Lourival.
Dando ênfase a suas palavras, ele queria a todo custo que o testemunho de Bruder fosse aceito como verdadeiro. Ou que pelo menos aceitassem ouvir o testemunho do amigo influente.
– Tá bom. Traz o Liar então – disse Raquel sem o menor entusiasmo.
A diretora concordou com a vinda do amigo influente somente para matar sua própria curiosidade. Estava certa que seria mais um depoimento mentiroso.
– Hoje à noite eu ligo pra ver se ele pode vir aqui amanhã – disse Lourival contrariado antes de sair da sala.
Bruno foi o primeiro a quebrar o silêncio de alguns segundos que se seguiu à saída do gerente de vendas.
– Amigo hein? O que o Bruder fez aqui foi só encenação. O que esse cara quer é detonar o Magrão – disse ele.
Como todo o hipócrita, Bruder se revelava no momento em que suas atitudes contrariavam suas palavras.
– Isso tá na cara! Amigo do Magrão é que ele não é – disse Raquel.
– Nem o Lourival. Não sei qual é o interesse dele nessa história, aliás, nem o interesse do Bruder dá pra gente saber – disse Aurélio.
– A Carla disse que parece até coisa de máfia – disse Raquel.
– E agora vem esse tal Liar. Uma coisa é certa, algum interesse eles tem – disse Bruno.
– Vamos ter mais uma seção de depoimento. Pelo jeito o Lourival pensa que nós temos tempo a perder – disse Raquel.
– Nem me fala em perder tempo. Já é primavera nos Estados Unidos. Preciso apressar a coleção outono/inverno 93 – disse o designer.
De cueca e camiseta, com uma muda de roupa limpa na mão, Lourival encaminhava-se para o banheiro do pequeno apartamento de um quarto onde morava desde o divórcio quando o telefone tocou.
– Alô.
– E daí, os clientes vão dar um pontapé na bunda do filho da p**a? – perguntou Liar.
– Tá complicado. Eles pediram referências dele pra dona do Talkway e ela desmentiu completamente o Bruder – disse Lourival.
– A vaca de novo! E o que eu te mandei dizer sobre o caso que eles tiveram?
– Depois do que ela disse até a minha palavra ficou em cheque. Ouvi tudo no gravador da secretária eletrônica. Falou até em máfia.
– P**a que pariu! – disse Liar.
– É melhor tu ir lá pra ver se conserta tudo – disse Lourival.
– Tu preparou a minha ida?
– Disse que ia falar contigo hoje pra ver se tu pode ir lá amanhã.
– Então amanhã de manhã tu diz que lá pelas três da tarde eu apareço.
Raquel não o conhecia, mas no momento em que, pela janela da sala, botou os olhos no ar de arrogância do sujeito que saiu do Tempra preto no estacionamento de visitantes da empresa, imediatamente teve certeza que se tratava de Liar.
Lourival recebeu o amigo influente no saguão da recepção com alardes de velho e grande amigo, como fizera com Bruder. O mesmo filme, só havia mudado um dos protagonistas.
– Entra! – disse Raquel.
Lourival abriu a porta com um sorriso e deu passagem para que Liar entrasse antes dele.
– O Liar se prestou a vir aqui tirar as dúvidas que f**aram sobre o Magrão – disse o gerente de vendas dando a entender que o amigo influente viera fazer um favor a eles.
– Prazer – disse Liar apertando a mão de Raquel.
– Prazer. Por favor, sentem que eu vou chamar os outros.
Logo, o cenário montado na sala da diretora de marketing estava exatamente igual ao do dia anterior. Com outro grande amigo de Magrão atuando como uma suposta testemunha da vida dele.
– O Liar é aposentado do Departamento de Operações Antinarcóticos, o DOPAN, e pessoa muito conhecida e respeitada em São Tomé pela sua idoneidade. Conhece o Magrão há muitos anos e pode dizer quem ele é na realidade – disse Lourival.
Amadeu Donato Liar teria por volta de quarenta e três anos, um metro e setenta e dois de altura e vários quilos em excesso. Cabelo grisalho curto, mostrando início de calvície. Os olhos castanhos e pequenos faziam esforço para demonstrar sinceridade. Usava uma camisa amarelo claro de manga comprida arregaçada, calça de tergal azul e sapato de couro marrom. Sujeito arrogante e prepotente. Prematuramente aposentado, gostava de jactar-se de seu livre acesso aos órgãos de segurança pública e até de uma suposta influência sobre eles.
– Antes de tudo quero avisar que essa conversa é um segredo só nosso. Não pode sair daqui – disse Liar.
– Não te preocupa. O que tu disser morre aqui – disse Bruno.
– Pois eu conheci o Magrão ainda na juventude, lá por sessenta e nove. Frequentávamos o mesmo clube. Até hoje converso com ele com frequência. Somos grandes amigos – disse o aposentado.
Mais um grande amigo exigindo confidencialidade. Até a introdução segue a linha do Bruder, pensou Aurélio.
– Mas apesar de gostar muito dele, sou obrigado a reconhecer que não é uma pessoa confiável. É ambicioso demais! Sempre procurando levar vantagem em tudo e pra isso age de forma desonesta. Vagabundo! Não gosta de trabalhar! Dorme até o meio-dia! – continuou o amigo influente.
– Aqui ele tem sido completamente honesto – disse Raquel.
– É maconheiro e rouba até as canetas que os clientes deixam em cima da mesa – continuou Liar ignorando a defesa da diretora de marketing.
– Vocês não sabem com quem estão lidando. O Liar conhece ele muito bem! – disse Lourival dando apoio ao aposentado.
– O fato dele ainda não ter feito nada desonesto não quer dizer que mais adiante não vai fazer. Melhor não esperar pra ver! – disse Liar.
– Já avisei eles! – disse Lourival.
– Na década de setenta, ele foi preso por chefiar uma quadrilha de tráfico de dr**as. Deem uma olhada nisso – disse o aposentado.
Num gesto teatral, Liar jogou sobre a mesa de Raquel uma ficha policial com a foto e os dados do professor deles. Nela constava inclusive o apelido de Magrão.
– Essa ficha é datada de dezesseis anos atrás! – disse Bruno.
– Mas não pensem que ele parou por aí! Já tive que usar minha influência pra tirar ele da cadeia diversas vezes. A última foi há uns dois anos, quando ele foi pego com uma boa quantia em dólares sem procedência. Quando vai preso, ele nem chama um advogado, me chama direto. As pessoas nem f**am sabendo porque ele sai logo. E é claro que ele vai negar, ninguém abre esse tipo de coisa, principalmente para os clientes – disse Liar.
O amigo influente fazia acusações atropelando os crimes contra a honra previstos no Código Penal Brasileiro, calúnia, injúria e difamação. E também desprezava a exclusividade constitucionalmente outorgada ao Ministério Público para funções acusatórias. Assumia o papel de promotor de justiça e também o de advogado de defesa, naquele arremedo de julgamento. Completamente ao arrepio da lei e nas costas do suposto réu ausente.
– Estão vendo? – disse Lourival com um sorriso.
– Nesse caso dos dólares, ele foi avisado que o melhor que ele tem a fazer é romper completamente com o passado. Inclusive se comprometeu comigo e com o pessoal que liberou ele a enterrar o apelido de Magrão e mudar de vida. Vocês são alunos dele, então daqui pra frente chamem ele de professor – disse Liar.
A argumentação capciosa do amigo influente incutia a ideia de que Magrão estava em dívida com ele e com o suposto pessoal que o liberou. E que, por conta disto, ele exercia o direito de dar ordens ao tradutor em uma abrangência tão ampla ao ponto de decidir o apelido que ele deveria usar.
– Sempre chamei de Magrão e ele nunca reclamou disso – disse Bruno.
– Com esse apelido ele nunca vai ter credibilidade nenhuma! E ele que não se atreva a continuar usando depois de se comprometer comigo e o resto do pessoal a deixar de usar o apelido – disse o aposentado asperamente dirigindo sua ameaça a Magrão.
Ele não estava acostumado a ter sua palavra posta em dúvida e muito menos contestada. Seu testemunho era aceito como prova irrefutável da idoneidade ou desonestidade de alguém. Não por sua hipotética credibilidade, mas porque todos temiam tornar-se alvo de suas difamações. Porém, naquela reunião a conversa indicava outro rumo.
– O fato é que aqui pra nós ele tem sido uma pessoa decente, responsável e trabalhadora. Não temos nenhuma queixa dele – disse Aurélio.
– Ele não presta e todo mundo sabe disso! – garantiu o intransigente Liar.
Apesar de apresentado como pessoa idônea e grande amigo de Magrão, ao falar Liar demonstrava ser insidioso e hipócrita. Mesma conduta de Bruder.
– Esse “todo mundo” tem a exceção da Carla, a dona do curso onde ele trabalhou três anos e meio – disse Bruno.
– O próprio amigo dele contou para o Lourival que eles tiveram um caso! É por isso o interesse dela na defesa dele! Mas até no curso dela ele andou roubando! – disse Liar contrariado.
– O Bruder me garantiu isso! – disse Lourival batendo no peito com o polegar direito.
Mesmo tratando-se da vida alheia, eles garantiam ter resposta para tudo. Naturalmente, respostas criadas a partir do testemunho deles mesmos.
– A palavra dele não prova nada. Nunca ouvi qualquer comentário nesse sentido quando estudei lá – disse Bruno.
– O fato das pessoas não comentarem não quer dizer que seja mentira! – disse Lourival.
Tarde demais, Liar deu-se conta que a atitude hipócrita de Bruder aliada ao desmentido de Carla havia conspirado a favor de seu alvo. O testemunho de Lourival também estava em descrédito. Para evitar um desgaste maior da sua própria palavra, optou por uma retirada estratégica.
– Se quiserem continuar usando os serviços dele, o problema é de vocês. Eu já disse o que tinha pra dizer. E lembrem-se de que nossa conversa é confidencial – disse Liar levantando-se, numa demonstração de que por ele a reunião estava encerrada.
– O que tu disse não vai sair daqui – disse Raquel.
Sem disfarçar a decepção, ao deixar a sala seguido por Lourival, o amigo influente nem mesmo olhou no rosto dos três clientes de Magrão.
– Pra mim esse cara veio aqui fazer a mesma coisa que o Bruder, queimar o Magrão. Usou um documento antigo sem validade nenhuma e o resto ficou por conta do testemunho dele – disse Aurélio alguns segundos após a saída dos dois.
Aquele ataque covarde e traiçoeiro, cheio de mentiras e acusações feitas pelas costas do interessado, deixou claro a todos a má índole e o caráter hipócrita dos dois pseudoamigos de Magrão.
– A Carla é quem tem razão, o interesse deles é que o Magrão perca os clientes e caia fora do mercado. Sabe-se lá porque – disse Raquel.
– E a mando de quem – completou Bruno.
Às dez e cinquenta da manhã de segunda-feira, a Parati vermelha de Magrão tentava vagarosamente passar entre os muitos funcionários da Catarina que se aglomeravam no pátio e na calçada em frente à empresa.
Após finalmente conseguir deixar a camionete em uma das vagas do estacionamento dos visitantes, ele caminhou entre o pessoal pisando na alcatifa natural formada pelas folhas do frondoso jacarandá espalhadas sobre a grama pelo vento outonal. Dirigiu-se a grande porta de vidro da entrada da recepção.
– Oi, tudo bom? – cumprimentou Magrão.
– Agora tudo bem. E tu? – respondeu a recepcionista.
– Tudo ótimo. Que movimentação de pessoal é aquela lá fora? – perguntou ele.
– Alguém ligou pra cá dizendo que tinha uma bomba na empresa e a segurança resolveu evacuar o pessoal. Imagina o pavor! – disse ela.
– Acharam a bomba? – perguntou ele.
– Agorinha mesmo terminaram a vistoria e não encontraram nada. O pessoal tá começando a voltar ao trabalho. Se tu não tivesse aparecido eu ia achar que tinha sido tu – disse a recepcionista.
– Mas eu apareci justamente pra tu não desconfiar – disse ele rindo.
Caio Roberto Magro era um moreno forte, do tipo atlético, com um metro e oitenta de altura e chegando aos quarenta e dois anos. O cabelo castanho escuro, cortado curto, não deixava aparecer os cachos graúdos. O rosto retangular tinha testa alta e espessas sobrancelhas escuras. Os incisivos olhos castanhos, protegidos por lentes fotocromáticas, pareciam penetrar as mentes alheias. O nariz era grande e a boca de lábios grossos. Usava bigode e o queixo estava coberto por uma barba por fazer. Era tido como pessoa simpática pelos amigos e conhecidos. Além da eterna calça jeans, vestia uma camisa laranja com as mangas arregaçadas e mocassim marrom.
– Tu tá rindo, mas a coisa foi séria! – disse a recepcionista.
O castanho escuro dos olhos da morena clara mignon ainda mostrava todo o nervosismo e o estresse causados pela situação.
– Tão séria quanto um trote de telefone.
– Oi tudo bom? – disse Magrão entrando na sala de Raquel.
– Depois do susto tudo bem. E contigo? – disse ela.
– Tudo ótimo.
– Hoje a aula é só comigo. O Bruno e o Aurélio não vão poder participar.
Seguindo a rotina de fazer conversação em inglês quando havia ausências na turma, ele iniciou a aula perguntando a ela como tinha sido o fim de semana. O assunto se esgotou depois de uns vinte minutos.
– Tem gente querendo te tirar do mercado – disse repentinamente a aluna em português.
– Eu sei – disse Magrão.
Raquel permaneceu em silêncio, mas com um eloquente ponto de interrogação no olhar. A curiosidade dela era quase palpável de tão visível.
– Pra entender isso, tu teria que ter nascido e te criado em São Tomé – continuou ele.
– É só aqui que acontece isso? – indagou ela.
– Acontece em muitos outros lugares também, mas aqui é mais escancarado. Devo ter arrumado inimizade – disse ele.
– Ah! Tu andou atacando alguém – disse ela como se tivesse decifrado um enigma.
– Pra criar inimigos não é preciso declarar guerra, basta dizer o que pensa.
– Frase inteligente!
– É de Martin Luther King – disse ele.
Ela ficou em silenciosa expectativa. Dando liberdade a ele para decidir se aprofundaria ou não o assunto.
– Mas obrigado de qualquer forma – disse ele depois de alguns segundos.
– Obrigado por quê? – perguntou ela surpresa.
– Por não me julgar com base no testemunho de terceiros – respondeu ele.
A frase dele encerrou o assunto. Mas ela entendeu que ele estava ciente de tudo.
E estava mesmo. Há cinco anos, desde outubro de oitenta e oito, ele havia se tornado alvo de indigestas pseudotestemunhas que, nas costas dele, usando uma argumentação baseada tão somente em sofismas, na mais completa e dolosa má-fé, mentiam para prejudicá-lo, desmoralizá-lo e envolvê-lo em intrigas colocando palavras na sua boca. Sempre exigindo sigilo absoluto, apresentavam-se de testemunhas oculares da vida dele junto a todos aqueles com quem ele tivesse qualquer interesse. Faziam um retrato falado totalmente estigmatizado do seu caráter visando manipular a opinião das pessoas e, desta forma, causar enormes prejuízos a sua identidade social e profissional. Ignomínias geradas por aquele apedrejamento moral criado dentro de um contexto puramente testemunhal. Eram criadores de estigmas.
Hipócrita e contraditoriamente, apresentavam-se como seus grandes amigos. Como diz o antigo ditado inglês, “um falso amigo é um inimigo secreto”. E ele tinha muitos inimigos secretos. Começando pelo próprio amigo influente que ele nem cumprimentava mais desde oitenta e oito. E inclusive Bruder, que ele já considerara como um de seus melhores amigos, era agora o mais eminente porta-voz do amigo influente e astro principal daquele teatro de falsidade. Por uma questão lógica, todo aquele que se apresenta de amigo e tenta prejudicar, assume a própria hipocrisia. E com certeza, nunca se pode confiar na palavra de um hipócrita.
Os inúmeros porta-vozes de seus grandes pseudoamigos, dentro da comunidade, garantiam incessantemente a palavra deles, com ênfase na sua hipotética fobia à polícia. A base da argumentação deles era “o amigo disse”. Aliás, nem poderia ser outra.
Embora estivesse ciente, nada acontecia na sua presença. Os amigos só diziam nas costas dele. As pseudotestemunhas e seus porta-vozes eram invisíveis aos seus olhos, mas concreta e negativamente influenciavam sua vida.
Apesar de todas as recomendações de confidencialidade de Bruder e Liar, a história do amigo influente vazou e somou-se a da ameaça de bomba no noticiário do disse-me-disse, inferindo uma conotação negativa à segurança da Catarina Footwear. Como se houvesse segurança possível contra trotes telefônicos.
“Menti, menti constantemente, que com o tempo vossas mentiras tornar-se-ão verdades”. François Marie Arouet VOLTAIRE, filósofo iluminista e escritor francês (1694-1778).