24/02/2025
Quando transplantei, imaginei que teria que retornar à hemodiálise algum dia... Mas f³oram treze anos maravilhosos, uma vida plena que eu jamais poderia ter imaginado antes do transplante. Mas, nesta época do ano, há quatro anos, a realidade me atingiu com força. O COVID-19 chegou de forma agressiva, um inimigo invisível que levou o resto da função renal que eu ainda possuía. De repente, me dei conta que novamente estaria conectada à máquina de hemodiálise, a fria realidade de um corpo que não funcionava como deveria.
A princípio, foi um choque. A sensação de fracasso, de ter perdido algo tão precioso, era avassaladora. As lembranças dos anos anteriores, livres da dependência da máquina, me assombravam. A liberdade que eu tinha conquistado, a independência, tudo parecia distante, um sonho perdido. A tristeza me invadia, me aprisionando em um mar de desespero.
Mas, em junho de 2021, aos poucos, algo mudou. Enquanto meu sangue circulava pela máquina, limpando as toxinas do meu corpo, minha mente também se limpava. Eu percebi que a hemodiálise não era o fim, como eu tinha imaginado no início. Não era uma sentença de morte, mas uma nova chance, um novo recomeço. Era uma oportunidade de repensar minha vida, de valorizar cada momento, cada respiração.
Aprendi a conviver com a máquina, a integrá-la à minha rotina. Ela se tornou uma companheira incômoda, mas necessária. Conheci outras pessoas na mesma situação, compartilhamos histórias, medos e esperanças. Descobri uma força interior que eu não sabia que possuía. A resiliência, a capacidade de superar obstáculos, floresceu dentro de mim.
Hoje, quatro anos depois, olho para trás e vejo o quanto cresci. A hemodiálise não define quem eu sou. Ela faz parte da minha história, mas não a domina. Sou mais forte, mais grata, mais consciente da fragilidade da vida e da importância de cada instante. E, quem sabe, um dia, eu possa ter uma nova chance de um transplante. Mas, por enquanto, estou aqui, viva, lutando, e me recriando a cada sessão de hemodiálise. A máquina não é o fim; ela é o meio para eu continuar vivendo.