
18/07/2025
Estava lendo uma crônica antiga do Mario Corso, sugerindo a criação de uma versão do Facebook onde fosse "postável" somente nossos fracassos e frustrações existenciais. Fiquei pensando: realmente, a tristeza pelo término de um relacionamento, a decepção com um desempenho sexual ruim, a indigestão depois daquele prato da alta gastronomia, caro e mais bonito do que saboroso, todas as mazelas cotidianas que a gente não deseja mostrar, mas que fazem barulho dentro de nós enquanto desejamos a melhor self e a nossa melhor versão fotográfica que nunca acontece, onde aparecem???
É raro, mas talvez aconteça de encontrarmos vida adentro um amigo leal e confiável a quem a gente consiga confessar (sim, essa palavra que remete à atmosfera sisuda e fria das catedrais onde há confessionários e culpa!) e dizer em voz alta dos nossos mais obscuros e bizarros pensamentos e sentimentos sobre aquilo que nos assombra, aflige, atormenta e envergonha. Mas é tão raro, que não sei se é possível! E não sei quantos de nós tem de fato tal privilégio!
O que pensei é que nossos consultórios, estes espaços psicanalíticos cada vez mais cheios de cor e textura, em suas folhagens pendentes, quadros coloridos e papeis de parede, é que podem ser o lugar, já inaugurado há tempos, onde é possível dizer em voz alta, ouvir-se dizendo e também ser escutado sem julgamentos, comentários desnecessários, cancelamentos, curtidas, ou likes, se preferirem, em toda essa dimensão que não desejamos mostrar, mas com a qual necessitamos nos haver. Tão triste seria se não houvessem lugares nesses outros formatos, além desses retangulozinhos aqui, onde a gente pudesse descarregar, exibir, sem tantos riscos, a nossa versão mais xoxa, capenga, sofrida, vulnerável, infantil e humana em toda a sua singularidade. Privilégio de quem se anima a usufruir destes espaços!