08/10/2021
Estudos apontam o câncer de mama como o 2º tipo mais frequente na população feminina brasileira. Mulheres que recebem esse diagnóstico frequentemente carregam o peso sociocultural de uma sentença de morte, além dos impactos psicológicos em decorrência do adoecimento. Sabemos que o padrão estético estabelecido pela nossa sociedade tem impactos significativos na construção da autoestima das mulheres, e isso se potencializa nas que vivenciam a desconstrução e reconstrução de sua autoimagem através de tratamentos agressivos, mas que são suas alternativas para a vida. Medicamentos, cirurgias, mudanças na aparência, quedas de cabelos, perda das mamas, mudança na disposição para realizar as atividades, inúmeros efeitos colaterais, perda de quem se é, do conhecido, do que representa. Vemos assim, explicitamente, o quanto esses padrões estéticos inalcançáveis são mesquinhos e cruéis. Além disso, o adoecimento para a mulher torna evidente o que normalmente nos negamos a enxergar: o desamparo. Frequentemente mulheres que enfrentam doenças e tratamentos como os do câncer de mama vivenciam um distanciamento socioafetivo. É comum relatarem situações de traição e abandono por parte dos parceiros, “justificadas” pelas mudanças corporais e dificuldades enfrentadas por elas durante os tratamentos, por ex. Mulheres que desempenham papeis de cuidadoras das famílias, quando precisam, não recebem esse mesmo cuidado, não encontram nenhum tipo de apoio ao vivenciar uma situação na qual estão vulneráveis física e psicologicamente. É muito comum que esse apoio venha de outras mulheres que também estão passando pela mesma situação ou que já tenham passado. Isso mostra o quanto juntas somos fortalecidas e o quanto a sociedade não se compadece com nenhuma perda vivenciada por mulheres (ao invés disso, se aproveita da vulnerabilidade para lucrar com a venda de algum produto que as coloque de volta nos padrões estabelecidos). Que neste Outubro Rosa atuemos na prevenção do câncer de mama, mas também na prevenção da vulnerabilidade colocada a nós mulheres por todos os cantos.
Psic. Natália de Oliveira Cotrim, CRP 06/129102.