12/01/2025
Ganhei esses souvenirs do museu de Freud, de uma pessoa muito especial. Atrás do cartão tem a mensagem mais poética que já recebi e isso me fez pensar no que me faz sustentar o caminho árduo que é ser psicanalista.
Minha história com a psicanálise não teve nada de romântico, a princípio. Antes da Psicologia, sequer sabia o que era Psicanálise. Já na graduação, lembro de ter pego o livro do caso Dora na biblioteca e me surpreendido, num deleite de quem lê um livro de literatura, sem pensar no teor técnico daqueles escritos.
Já havia passado por psicólogos de diferentes abordagens: analítica junguiana, fenomenologia, TCC, inclusive da psicanálise, ao qual, apesar de me identif**ar com os profissionais, não havia o tipo de escuta que eu precisava. Foi aí que ganhei um cartãozinho (esse era o mkt da época), rs e fui. Lembro de ter sentado no divã e falado, num misto de angústia e confiança. Era estranho, nunca havia visto aquela mulher, esta silenciosa e atenta, sem oferecer nenhum direcionamento. Não era preciso. Eu já havia entendido. A angústia me ensinou. Já estava escrito, seria psicanalista. Assim, na época, sem sequer saber o que um psicanalista fazia, mas sabendo. O inconsciente, esse saber que não se sabe que se sabe.
Escutei, um dia, que eu fui parar com essa analista, por indefinição: que eu parei lá, por acaso. Discordo, parei lá de caso pensado. Ali a transferência aconteceu, foi ali que eu recordei, revivi, elaborei minhas maiores questões, infantis e atuais. Ali, em meio a angústia, que aprendi a ser psicanalista. A partir do desejo, aquela fagulha que se acendeu, fui me encaminhando nos estudos, na clínica e nas supervisões.
Antes de seguir associando, vou retomar, como boa neurótica, tentando manter o controle do discurso, o ponto que me fez escrever esse texto. Laços, esse é o ponto. Longe de mim investir meu tempo falando da "ineficácia" de uma determinada abordagem, quando sei que o ponto que faz uma análise andar é a transferência. Essa estranheza que senti ali e que trouxe o que há de mais familiar. Tem laços que são assim, esse é o meu com a pessoa que escreveu o que está atrás do cartão... Esse é o meu com a psicanálise.